light gazing, ışığa bakmak

Monday, August 23, 2010

acabando 'Os Anéis de Saturno'

acabo a leitura com vários cantos de páginas dobrados, para reler ou para me lembrar de algumas ideias que julguei inéditas, como por exemplo a associação da profissão dos escribas à das tecedeiras pela posição pouco natural em que trabalham e até pela natureza do trabalho, entre muitas associações que podem ir surgindo depois da imagem inicial. um homem que se verga, uma mulher que se verga sobre o trabalho, assim a ideia feita.


não é meu costume observar gente, mas por esta altura do ano sou obrigada pelo metro ou dois que me separam da multidão quando levanto os olhos do livro. também é verdade que quando as leio na ficção dos livros julgo sempre que as reais são melhores do que aquelas, não passa de invenção a maldade ou a crueldade, a inveja. a lista estende-se. três crianças chegam na companhia de uma nanny asiática, que fala mal o português. segue-as para todo o lado e, quando os miúdos se deitam nas cadeiras depois do banho de mar, ela encolhe-se ao lado, na areia à sombra. no final da tarde chega a mãe, uma mulher nova, magra, longo cabelo claro. trata tudo por você e por você diz que lhes bate se não se despacham a sacudir a areia para ir embora. horrible, hate it, gets everywhere like flour. embora seja portuguesa. noutro canto um pai com dois filhos pequenos e grande profusão-complicação de baldes e instrumentos plásticos de construção para a praia. novo também, engenheiro sem dúvida, pelo afinco com que constrói tijolos de areia perfeitos, com as arestas vivas e a perfeição dos de cerâmica. cada tijolo uns dez minutos de processos complicados. ao final de duas horas, nem exagero sequer, tem uma pequena parede de três fiadas de altura. ao seu lado, a rapariguita que imagino ser sua filha brinca com os dedos na areia e constrói um monte imperfeito, arredondado e com as marcas da ponta dos seus dedos. não sei qual é a maior solidão afinal- no mar, dois filhos musculados e adultos, que não fazem parte da maioria branca de meia-idade que habita este lado da praia, dão a mão à mãe. venha para aqui, mãe, não tem algas, está quente a água. a voz sim é quente.

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