light gazing, ışığa bakmak

Sunday, August 1, 2010

outro mundo

"Portugal parece de verdade, parece outro mundo. Quando vou a Lisboa ando pelas ruas dessa cidade como se estivesse estado sempre nela. Isto não me aconteceu a primeira vez que a visitei, em 1968, quando fui trabalhar como actor secundário num filme de James Bond, o primeiro que rodaram sem Sean Connery. Nessa altura a minha excessiva e descarada juventude fez-me passar por Lisboa como «um fantasma errante em salas de recordações», como dizia Pessoa. Não me inteirei de quase nada, não vi Lisboa, não vi nada. Mas quando, em 1989, fui pela segunda vez, tive a impressão de que estivera sempre nessa cidade, sentia em cada esquina a memória difusa de já a ter dobrado. Quando? Não sabia. Mas já ali tinha estado antes de nunca ter estado.

Quando vou a Lisboa passo horas no Terreiro do Paço, à beira do rio, a imitar Soares, a meditar em vão: «Passo horas, às vezes, no Terreiro do Paço, à beira do Tejo, a meditar em vão [...] O cais, a tarde, o cheiro do mar, entram todos, e entram juntos, na composição da minha angústia."

Vila-Matas em O Mal de Montano

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