"... aquilo que a distingue [Benares] e que constitui a sua originalidade são os quatro quilómetros e meio da margem do Ganges sobre os quais se debruçam, do alto de escadarias tétricas e grandiosas, dignas da Babilónia, os palácios e os templos mais importantes da cidade. Estes quatro quilómetros e meio de edifícios desiguais, e no entanto acomunados e unificados pelo mesmo ar de antiguidade corrupta e enegrecida, magicamente suspensos sobre as escadarias à beiras do Ganges amarelo e lustroso, que naquele ponto é muito estreito, pouco mais largo do que o Tibre em Roma, devem ser vistos de uma embarcação que avance lentamente contra a corrente, de manhã, quando nas margens pulula a multidão de peregrinos que se lavam no rio. Então, com um efeito levemente semelhante ao das Venezas orientais e irreais pintadas por Turner, Benares surgirá imersa numa luz difusa, dourada, melancólica, remota, como que filtrada através das cartilagens amarelas e secas de uma caveira, e o rio imóvel e espelhento sob o formigueiro febril da multidão surgirá, justamente, o sentido de uma morte em que a vida se imerge e se dissolve, do mesmo modo que os cadáveres que todos os dias são confiados à corrente, para que ela os transporte e os disperse no mar." em Uma Ideia da Índia de Alberto Moravia. se Renoir olhava o Ganges através da inglesa Harriet (em 1951), aqui Moravia vai buscar Turner (em 1961, dez anos mais tarde).
light gazing, ışığa bakmak
Sunday, September 19, 2010
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