light gazing, ışığa bakmak

Saturday, September 25, 2010

amei

Susan Lipper.  "Amo, pelas tardes demoradas de verão, o sossego da cidade baixa, e sobretudo aquele sossego que o contraste acentua na parte que o dia mergulha em mais bulício. A Rua do Arsenal, a Rua da Alfândega, o prolongamento das ruas tristes que se alastram para leste desde que a da Alfândega cessa, toda a linha separada dos cais quedos - tudo isso me conforta de tristeza, se me insiro, por essas tardes, na solidão do seu conjunto. Vivo uma era anterior àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele. Por ali arrasto, até haver noite, uma sensação de vida parecida com a dessas ruas.", diz Pessoa, aliás Bernardo Soares, no Livro do Desassossego. não nessas ruas em que um ajudante de guarda-livros arrasta uma sensação de vida, mas nas outras em que moravam milhões de aranhas castanhas e grandes, penduradas nos tectos e nos varandins das pontes (mais do que em Veneza), nos candeeiros, nas paredes nos bancos nos sinais de trânsito, multidões delas que não devem arrastar nada. não arrasto nada senão os objectos de quem já não os pode quebrar, guardava uma colher porque um dia me zanguei e a atirei ao chão, ficou a lasca da minha zanga a faltar à madeira. acendi duas velas na velha Michel. se acabou o jantar porque continuas sentado à mesa?

1 comment:

Anonymous said...

#leave the table when love is no longer being served #

 
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