Impossível passar ao lado de mais uma encenação de Rita Lello, especialmente quando se trata de Sam Shepard. O texto é abismal, caleidoscópico, um pesadelo de imagens a uma velocidade vertiginosa. Chamam-lhe comédia mas prefiro sátira irónica, até pela transformação do que é absolutamente normal em grotesco (os personagens masculinos se propõem fazer à única personagem feminina). Miss Scoons balança entre Lara Turner, empregada-secretária submissa, imagem de estrela, stripper-anjo. São muitos clichés para um corpo só, o de Vânia Naia. E, antes de mais, parabéns à companhia e a Rita Lello pela encenação de mais um texto difícil, complexo, ramificado e actual.
O que gostei menos: só do volume agressivo do som, particularmente na primeira parte do espectáculo. De resto é sem dúvida uma ida obrigatória para quem gosta de Shepard, ou de teatro, ou da Barraca, ou dos actores, ou de pensar.
Não pude deixar de lembrar a queda súbita (a história a passar aceleradamente) entre Ave Maria (Mothers of America / let your kids go to the movies!) de Frank O'Hara, de 1950, e a indústria da cidade dos anjos nesta peça de 1976. ainda volto aqui, julgo.
"His characters live discontinuous lives. Some connection has been broken between themselves and the past (mythic and historical), between themselves and their families, their lovers, even the language they speak. experience comes in fragments. Emotions flare up and quixotically turn into their opposites. America itself seems deracinated. Myths have devolved into fantasies. Communities have become no more than the serendipitous gatherings of strangers. Landmarks are sand-blasted away or suffocated in the detritus of a society in which nothing seems worth retaining, and beauty is seen less in the natural sweep of the land than in the tail-fin of a '57 Chevy or the functionalism of a weapon. His is a world of distant echoes, of narratives that have lost their point, individuals who have simplified their lives out of anxiety or passion. These are so many Gatsbys viewing life through a single window, blinded by the brightness of an obsession, reinventing themselves so that the very idea of identity becomes suspect."
no The Cambridge Companion to Sam Shepard.
e mais: não consigo explicar logicamente e de modo articulado o porquê deste espectáculo não estar esgotado para os próximos seis meses. se estivesse no Fringe Festival de Edinburgo ou no do Minnesota (não, não é um sítio remoto) estaria decerto. a sorte que temos desta teimosia de uma companhia que gosta de existir. o pensamento independente existe para além dos espartilhantes shows-ketchup-copo de plástico da tv? e os intelectuais (Sam Shepard, quem?, ah o do filme)- de vez em quando saio do zen das leituras das crianças das bolachas e das ervas aromáticas em que me refugio da açorda empapada que faz a chamada 'actualidade' e irrito-me um pouco porque seria pouco cool gritar.
light gazing, ışığa bakmak
Sunday, December 12, 2010
"Angel City", Sam Shepard por Rita Lello
Publicado por Ana V. às 8:54 PM
TAGS AmLit, Sam Shepard, teatro
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