(quando voltar a casa, verei Una Giornatta Particolare)
em ponte d'Adda, um cemitério com arcos e colunas faz vizinhança a um campo de futebol, no vale fértil do Pó. tudo é verde, toda a terra está ocupada e alguma coisa cresce. campos de milho em toda a planície. bandos de pássaros voam rente aos milharais e depois voltam a subir. aqui, como na cidade, crescem heras e trepadeiras por todo o lado, sobem paredes e cobrem janelas, varandas, edifícios inteiros até ao telhado, postes de iluminação. numa das ruas perto da Centrale, um prédio está coberto de trepadeiras, que deixam à vista apenas a varanda do primeiro andar.
Sí ai treni che passano una volta sola. publicidade omnipresente, ofuscando os principais monumentos, ecrãs nos túneis do metropolitano, nas estações, as notícias involuntárias do passante.
saindo de Milão, e em várias outras estações do comboio, as Cabinas erguem-se decadentes e abandonadas, postos de controlo de outrora que agora morrem, vazias e metálicas. dariam um álbum de ruínas.
fecho os olhos por momentos e quando os abro vejo Desenzano, uma baía que parece no mar, as montanhas escondem-se. a paragem só em Peschiera, localidade rodeada por uma muralha altíssima e por um fosso de água esmeralda onde nadam patos. nos seus lugares, os adolescentes dão voltas como os cães ou os gatos à procura de uma posição de conforto. os velhos seguem sentados, direitos e sem se mexerem, durante as três horas da viagem.
este edifício não é direito. as paredes, o chão, as escadas, tudo tem curvas e barrigas. da janela vejo telhados e o que neles se encontra, a vida secreta das alturas.
do comboio, Mestre é uma cidade suburbana, prédios medíocres que se agrupam em ruas. fábricas, empresas, um tecido urbano sujo e apinhado. deixando a cidade para entrar na laguna adivinha-se o aeroporto de um lado e vê-se o perfil das refinarias do outro. duas torres cospem fogo. contentores e pórticos, porto de mar, urbanismo industrial. de todos os filmes deste ano, Film Socialism persiste em regressar à minha memória, na sua violência.
travel light: assim fiz. de bagagem, de pessoas, de livros e, conseguindo, de ideias. comigo apenas os contos de Thomas Mann.
na televisão imagens que não chegamos a ver. um guarda costeiro dá água na boca a sobreviventes das novas embarcações que cruzam o Mediterrâneo. eles abrem a boca, à vez. desumano, diz um homem.
perto da Accademia, na rua de todos os que vieram nesses barcos, vendedores de malas e óculos, um asiático faz pássaros com folhas finas de palma. é uma outra multidão, essa que vende nas ruas principais. concentram-se ainda nas estações, onde esperam os comboios. entram e percorrem carruagens à procura de lucro, saem antes do apito da partida. os vendedores de malas falam sempre ao telefone, sérios.
light gazing, ışığa bakmak
Friday, August 5, 2011
travel light
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