riva

no autocarro quase vazio entra um grupo de raparigas vestidas de preto, uma tem o cabelo azul. falam todo o caminho e riem. numa das paragens acenam para um homem que fuma um cigarro à porta do café.

a viagem é curta mas demora algum tempo. a certa altura um acidente e quando se começa a descer da montanha para Torbole o trânsito pára num enorme engarrafamento. por todo o lado hotéis, restaurantes e lojas de bugigangas. já em Riva, toda a parte antiga da cidade foi transformada numa grande feira onde se vende o mesmo que em todas as feiras por gente semelhante aos vendedores de todas as feiras. milhares de turistas, na sua maior parte germânicos. este lago foi sempre habitado. no neolítico, existiram grandes povoações lacustres, construídas de modo engenhoso. os campos de batalha da primeira guerra são agora trilhos para caminhadas. pelo caminho de cento e cinquenta quilómetros, trincheiras, fortes e citadelas. caminhadas e eventos, exposições e encontros, as grandes guerras para consumo turístico.

apesar do esforço de dinamização cultural, o museu da cidade está quase vazio. a praia de Torcolo cheia e no lago uma regata. durante a tarde e à noite, músicos de qualidade duvidosa tocam frente aos restaurantes que forram as fachadas do largo. guitarra a querer ser espanhola, flauta, os músicos andinos eternos destas situações.

no verão de 1910, Alessandro Oppi decidiu dedicar o seu tempo de férias ao lago Garda. durante dez dias percorreu quase todas as povoações do lago e tirou 216 fotografias. no dia 10, ou seja, há precisamente 101 anos, Alessandro chegava a Riva, onde precisou de passar o controlo alfandegário austríaco. no comboio uma voz anunciava repetidamente: o bilhete da trenitalia não é válido neste comboio. ainda hoje os torpedo boats tentam encher os sítios mais escuros de luz para expulsar contrabandistas.

os romanos instalaram grandes vilas nos locais mais panorâmicos sobre o lago.

reparei que quanto mais longe sinto que estou do mar, mais longe penso que estou. longe de seja o que for.