light gazing, ışığa bakmak

Thursday, December 8, 2011

blogueiros, fruitcake

"Por um momento, pondera não estar diante do monitor tantas horas como as habituais, e não exactamente pelo que Celia disse, embora isso também tenha muita influência, mas porque, por outro lado, há já algum tempo que diz que deveria dar uma longa oportunidade à vida, colocar-se desafios vitais distanciados da sua obsessiva tendência dos últimos tempos para permanecer imóvel em frente do monitor. Mas, logo a seguir, muda de opinião. Com os seus quase sessenta anos, não consegue ter ideias para desafios vitais. Assim, decide finalmente mergulhar de novo, mais um dia, na Internet e no motor de busca de blogues do Google, onde nunca evita dar rédea solta a um certo narcisismo e acaba por escrever primeiro o seu nome e, a seguir, o da editora. Sabe que, à parte de egocêntrico, tudo aquilo é claramente maníaco. Mas, mesmo assim, não quer renunciar a esse costume quotidiano. A carne é fraca.

De facto, essa atitude maníaca serve-lhe para aplicar a sua nostalgia de quando ia ao escritório e, com Gauger, o seu secretário, passavam em revista tudo o que a imprensa dizia sobre os livros que publicavam. Sabe que, como substituta daquela actividade de despacho, a sua mania de agora é quase grotesca, mas, a ele, parece-lhe necessária para a sua saúde mental. Entra em muitos blogues para se informar do que eles dizem sobre os livros que publicou. E, se encontra alguém que diz algo minimamente incómodo, faz um comentário anónimo, chamando ignorante ou imbecil a quem escreveu aquilo.

Hoje, dedica um bom bocado de tempo a essa actividade e acaba por insultar um turista barcelonês em Tóquio, um tipo que no seu blogue diz ter levado de viagem um livro de Paul Auster e sentir-se decepcionado. Cabrão de blogueiro! De Auster, ele só publicou La invención de la soledad e, embora o livro depreciado pelo turista seja Brooklyn Follies, sente-se igualmente afectado pelo mau trato a Auster, que considera seu amigo. Quando termina de insultar o blogueiro, sente-se mais descansado do que nunca. Ultimamente, anda tão susceptível e com a moral tão em baixo, que considera que, se tivesse deixado passar por alto esta injusta opinião sobre o livro de Auster, teria ficado ainda mais deprimido do que estava".
Vila-Matas em Dublinesca.

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tenho um caderno sem linhas.
(aqui não há sangue)

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