light gazing, ışığa bakmak

Sunday, April 22, 2012

Terraferma, Emanuele Crialese

Alguma coisa me era familiar, o ambiente, o mar, a aldeia. Não me recordava de Respiro, de que falei em blogue extinto entretanto, no longínquo 2003 em que todos éramos outros, incluindo Itália e Crialese, numa altura em que eu tentava recuperar anos de ausência europeia. Agora seria talvez o contrário e anseio por ver o pó da América no filme de Sorrentino This must be the place. Esquecer Nova Iorque, o que quero é a mid-America.



 

a preocupação é a mesma de Le Havre, mas o caminho e as cores são opostas- dos cinzentos belgas à luz ardente da Sicília. os imigrantes que morrem nas nossas fronteiras, no nosso mar, são cadáveres que pesam na culpa europeia.

por curiosidade, Timnit T., a clandestina grávida de Terraferma não é actriz, mas ela própria uma dos resgatados ao mar. ("Timnit non è un'attrice. E' una vera migrante. Nel 2009 lessi di questo barcone rimasto alla deriva per 3 settimane e poi approdato a Lampedusa", racconta il regista. "C'erano 79 persone a bordo. Solo in 5 arrivarono vive. Una di queste era Timnit. Restai ipnotizzato dal suo sguardo, in quella foto, sul giornale. E ho voluto incontrarla. Non è stata una cosa immediata. Così come non è stato facile farmi raccontare la sua storia, la sua odissea, vincere le sue reticenze. E allora le ho chiesto di inventare una storia con me, di creare con me il personaggio. E' stata una comunicazione spesso muta, ma lei è una donna molto espressiva. E di grande dignità, come tanti dei migranti che ho incontrato".)

o nosso mar. o início é imediatamente um poema, com todas as partes de um poema excepto as palavras. o que veio de Respiro, mas com nove anos de mudança, foram as imagens do mar, que também termina a história, o final da moldura. o Mediterrâneo é, do modo como o vemos, um pouco do berço do que somos. é hoje também um campo de morte. as imagens que vemos (menos do que deveríamos ver) chocam-me profundamente. aqui gostei da fisicalidade da cena da praia, de como veraneantes semi-nus abraçam os náufragos. tanto em Le Havre como aqui, a polícia é o mau da fita. assim estamos na democracia: o encontro de homens da terra a falar sobre o problema e de como reagir a ele. talvez a democracia mais verdadeira esteja a ser abafada por "ordens de cima". por outro lado, este final de semana a oferecer um espectáculo comovedor: os cidadãos da Guiné Bissau a encherem as ruas reclamando líderes eleitos, contra a ditadura militar.

a tragédia pessoal de cada personagem perfeitamente retratada na história. a tragédia social de ambos os lados também. outro retrato colorido, musical e metafórico: o do nosso mar. as cenas filmadas no fundo do mar perturbam-me, movem-me.

os turistas que por ali passeiam de olhos fechados afinal sou eu.
belas imagens (gostei da luz) mas, acima de tudo, uma história emocional de sobrevivência e solidariedade. não gosto (e gosto, às vezes) do ennui. o ennui não é desculpável quando há tanta coisa para fazer.

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