light gazing, ışığa bakmak
Wednesday, July 11, 2012
forte da Graça, em Elvas
o forte da Graça foi possivelmente a maior descoberta das minhas deambulações. podia dizer descoberta no sentido literal do termo pois lá chegar é quase impossível. não está assinalado em lado nenhum; uma única placa pequena e desmaiada na berma de uma estada secundária. mas digo no sentido de verdadeiro buraco negro histórico de que se pode ter uma pequena ideia a partir da wiki.
não fossem os 'prémios' da Unesco e não teria tido sequer curiosidade e julgo que muita gente irá como eu, movida por essa curiosidade. este forte só pode ser começar a ser apreciado quando visto do céu, o que podemos hoje e agora mesmo fazer com a maior facilidade de pássaro, esses olhos que nos foram negados ao longo de séculos. a estrela do desenho remete-me à velocidade da luz para Sebald, particularmente Austerlitz e estou certa que os seus passos de caminhante ficcional poderiam ter passado por este monte e por estes portões, descobrindo perversidades da acidez humana. o forte da Graça, como tantas outras coisas neste país que saem da norma da rusticidade, foi imaginado e construído por um alemão, por ordem do marquês de Pombal.
"Utilizado no passado como prisão militar, o conjunto encontra-se hoje (2009) em condições precárias de conservação, aguardando a sua cedência à Câmara Municipal de Elvas para consolidação e restauro." e hoje, em 2012, assim se encontra ainda.
e
"O Forte de Nossa Senhora da Graça faz parte do sítio Cidade Fronteiriça e de Guarnição de Elvas e as suas Fortificações, Património Mundial da UNESCO." (como???)
procurarei saber mais sobre a sua condição de prisão militar. quanto à integração deste património no Património Mundial, gostaria eu de saber como é possível estando todo o conjunto num abjecto estado de desprezo e abandono, em ruína total e vergonhosa que nos envergonha a todos como país e como cidadãos. não sei se ainda "aguarda" : aguarda o quê, que raio?? para passar para a Câmara de Elvas. espero que passe, já que o Estado, imagino que o exército, outro responsável no nosso país pelo estado miserável de parte significativa do património histórico que nos pertence a todos - é incapaz de mexer um dedo e é assim responsável pela ruína e desaparecimento dos tesouros que vemos partir com a indiferença de um povo adormecido. suponho que comprar submarinos seja tão mais urgente.
se isto me irrita? irrita muito.
(tirei mil fotos, ainda acrescentarei algumas mais)
ironia disparatada e pimba desta visita a um cadáver arquitectónico: a transformação de duas salas à entrada em tasca "típica", com azulejos de qualidade ultra-duvidosa, com adereços de taberna plásticos e artificiais a conspurcar as paredes. também esse devaneio está abandonado.
como no Alqueva, como em tanto mais: deitamos no lixo os maiores tesouros. quando eu saía, chegava um casal de miúdos, munidos de uma poderosa Canon, com objectivas capazes de captar as mais ínfimas frestas. deposito tanta esperança nesta nova geração. de nós herdam uma pilha de lixo e um buraco orçamental. vergonhosa geração a minha.
Publicado por
Ana V.
às
10:17 AM
TAGS Evora12, hipsta, Portugal é um país de
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment