à porta da mais do que extremamente refinada casa Ladurée, plantaram-se quatro russos vestidos a rigor, cantando velhas melodias. as meninas Ladurée hesitavam entre fechar a porta ou deixá-la aberta. o macaron que experimentei para amostra tinha o sabor divino de morango verdadeiro com recheio de marshmellow. durante todo o dia de ontem andava um louco pelas ruas aos gritos, furioso. hoje não o vimos, talvez se tenha atirado do rochedo, talvez se tenha transformado, ao toque da meia-noite, num dos bancários de fato e gravata que enchem as ruas à hora de almoço.
esta cidade tem de estar na lista das Invisíveis. senta-se no alto de um rochedo minado por 23 km de túneis labirínticos. as belas famílias não tinham acesso directo ao canal, como em Veneza, mas sim às catacumbas.
nestes buracos cavados na rocha à força de braços se escondeu o povo, às centenas, durante os raides alemães. os americanos passaram nestas ruas, brindando à libertação. algumas dezenas ou centenas deles jazem no cemitério americano às portas da cidade.
por cima das latrinas nos túneis do refúgio alguém escreveu: para que ninguém esqueça este cheiro.
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