"Na parte mais pequena do templo, atrás de um vestíbulo que impede a luz de penetrar, há uma cela tenebrosa que parece escavada na rocha viva. À luz fraca de uma lamparina de azeite, vemos que a cela está ocupada a todo o comprimento por um leito de pedra, sobre o qual, numa atitude de quem dorme, está estirada a estátua do deus Xiva. A pequena chama da lamparina de azeite só ilumina uma parte da estátua de cada vez que se desloca, de modo que, vendo ora a grande mão divina abandonada no chão, ora a cabeça com as pálpebras descidas apoiada no travesseiro, ora as pernas afastadas e estendidas, fazemos uma ideia fragmentária, e talvez por isso ainda mais misteriosa, do somo em que o deus está mergulhado. O contraste entre esta letargia nas trevas e a luz resplandecente do sol tropical sobre o mar em perpétuo movimento é tão forte que parece impossível que seja casual, porém o significado escapa-nos, como sempre acontece quando se passa dos símbolos obscuros mas precisos da religião para a clareza enganadora da . poesia. De qualquer modo, tal como o templo, também o deus Xiva está a morrer. E também ele, dentro de alguns séculos, se não repousar sobre o veludo de um museu, será comido pelas ondas e reduzido a um dos muitos seixos que existem na praia de Mahabalipuram."
Alberto Moravia em Uma Ideia da Índia.
light gazing, ışığa bakmak
Saturday, November 17, 2012
museu (2)
Publicado por
Ana V.
às
10:16 PM
TAGS Alberto Moravia, lit e arte
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