light gazing, ışığa bakmak

Tuesday, January 15, 2013

masterpiece

essa categoria existe ainda? A Vida Nova cabe lá, embora este não seja um livro mas parte do livro que é toda a escrita de Pamuk (não uma biblioteca de babel, mas uma biblioteca de Pamuk). será um plano a executar com calma mas serenamente: ler todas as palavras deste autor.

"Em menos de meia hora distingui os sinais precursores da aurora pela janela à minha direita, o que significava que nos dirigíamos para norte. Primeiro, perfilou-se vagamente no escuro o limite entre o céu e a terra. Depois, esse limite começou a tingir-se de um vermelho sedoso que, sem iluminar a estepe, invadiu o céu escuro de uma ponta à outra. Esta linha de demarcação avermelhada era tão fina, tão delicada, tão extraordinária que o infatigável Magirus se lançou rumo à escuridão como um cavalo louco que tivesse tomado o freio nos dentes e os passageiros que ele transportava ficaram cheios de um frenesi mecânico desprovido de sentido. Ninguém notava isso, nem mesmo o motorista que tinha os olhos fixos no asfalto.

Alguns minutos depois, a luz débil que a linha do horizonte espalhava, agora de uma cor púrpura um pouco mais intensa, tinha iluminado os contornos das nuvens negras. Enquanto, nesta luz fraca, contemplava as formas esplêndidas que as nuvens tomavam, estas nuvens que durante toda a noite tinham despejado cá para baixo uma chuva sem tréguas, reparei numa coisa: como a estepe ainda estava mergulhada na escuridão, podia ver no pára-brisas o reflexo da minha cara e do meu corpo ligeiramente iluminados pelas luzes de presença do interior, e podia ao mesmo tempo ver a faixa de luz de um vermelho mágico, as nuvens maravilhosas e, na estrada, as faixas brancas que se sucediam incansavelmente."
Pamuk em A Vida Nova.

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