light gazing, ışığa bakmak

Tuesday, February 26, 2013

amor (3)

[depois de todas as noruegas se terem desmoronado em espuma, temporariamente digo com esperança cega, depois de reconhecer que não suporto viver sem luz. por mais que me tente enganar: assim é melhor para o preto e branco. e se o tipo de rolo não estivesse no weather man? ]

Pamuk diz ter a certa altura colocado a si próprio a questão se o leitor interfere na produção do texto, se a reacção adivinhada condiciona a escrita ou o desenrolar da história, se o facto de ter leitores internacionais o fazem facilitar a compreensão (sugarize, diz ele) do texto e diz que não. mas acho que sim. há um fosso entre Kara Kitap e Museum of Innocence que pode tanto ser o facilitar como ser a evolução do escritor que passa da densidade para a leveza, como Saramago entre o Convento e o Elefante. por outro lado, Pamuk diz que a escrita está em primeiro lugar, só depois vem o Museu. mas a obsessiva relação com os objectos, num paralelo com o obsessivo "amor" de Kemal, takes its toll on him.

eu prefiro Istanbul mil vezes a esta história sombria de um "amor".

para uma definição do sentimento (uma definição menos alemã do que a definição de Haneke - rotina, desengano, frieza, convenção, aparência, necessidade, inevitabilidade, crueza e comunhão), e via H., muito a propósito, esta ideia:


"Nos anos 70, Marina Abramovic viveu uma intensa história de amor com Ulay. Durante 5 anos viveram num furgão realizando todo tipo de performances. Quando sentiram que a relação já não valia aos dois, decidiram percorrer a Grande Muralha da China; cada um começou a caminhar de um lado, para se encontrarem no meio, dar um último grande abraço um no outro, e nunca mais se ver.

23 anos depois, em 2010, quando Marina já era uma artista consagrada, o MoMa de Nova Iorque dedicou uma retrospectiva a sua obra. Nessa retrospectiva, Marina compartilhava um minuto de silêncio com cada estranho que sentasse a sua frente. Ulay chegou sem que ela soubesse e... Foi assim."

(Traduzido por Rodrigo Robleño)




bem posso dizer que este minuto substitui todos os 127 minutos de Haneke, como também as 728 páginas de Museum of Innocence. mas é verdade que Haneke define outras coisas melhor do que o amor que coloca no título, como Pamuk define um mundo inteiro enquanto faz de conta que a história de Kemal não é mais do que uma história de amor.


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