light gazing, ışığa bakmak

Sunday, February 24, 2013

amor

ontem falávamos do que era o amor que é, parece-me, uma coisa simples de se saber o que é, embora seja tantas vezes confundido ou misturado com outras coisas que lhe são alheias e estranhas. um dos mais estranhos livros (literatura e não 'fiction' que, de certo modo, confesso, desprezo) escrito não para relatar uma história de amor (aquilo que seria talvez se fosse ficção) mas para misturar da forma mais radical e sangrenta (não tem nada de sangue nem de violência física mas não posso deixar de pensar que ataca violentamente e com arma cortante aquilo que é a escrita tal como foi vista até agora) a realidade e a escrita.

Elif Batuman refere um ponto curioso: enquanto as personagens só podem ser imaginadas, bem como as suas histórias, os móveis e os bibelots literários são descrições exactas de objectos existentes. o ponto é curioso se bem que não verdadeiro: muitas personagens são cópias exactas de pessoas verdadeiras, enquanto muito objectos literários são criações refinadas de objectos que nunca existiram. Perec cria mesmo uma colecção de arte, com nomes e referências.

Füsun foi criada a partir de grupo socio-cultural, de uma casa e de objectos. o livro cresceu à medida que crescia a colecção dos objectos. Istanbul surgiu no meio deste projecto de dez anos. o museu desenha-se ao mesmo tempo que o livro é construído. inaugurado o museu é escrito o catálogo. a minha maior curiosidade é saber o que pode vir depois de tão grande obsessão. --julgo que no verão de 2013 é publicado na Turquia o próximo livro.

regressando: a mulher desaparecida, uma verdadeira mulher-objecto pois apenas vive através dos objectos que hipoteticamente tocou ao longo da sua vida (cada pessoa uma colecção de objectos). isto não é amor mas uma obsessão doentia que o autor carrega desde quando não sei pois apenas o conheci em Kara Kitap. aliás, o livro preto vem de Nabokov, mestre de obsessões várias.

"The museum logo is a butterfly and, in the scene with the butterfly earring, Füsun is 18 and the narrator is 30. I don’t usually care for Nabokov references and I’m not crazy about butterflies, but I found The Museum of Innocence to be one of the few books I’ve read that alludes to Lolita successfully. It made me realise why Lolita is a novel about paedophilia. Lolita has to be impossibly young, because the brevity of youth is a metonym for the brevity of life, and the monstrousness of Humbert’s passion is the monstrousness of facelifts, or of Lenin’s tomb, or of the wedding cake in Great Expectations. ‘Exhibit number two,’ Humbert says early in Lolita, ‘is a pocket diary bound in black imitation leather, with a golden year, 1947, en escalier, in its upper left-hand corner.’ Although Lolita is narrated from a prison and not a museum, the profusion of birdcages in the Museum of Innocence tips you off to a figurative equivalence. Humbert, Kemal and the last Ottoman prince share a family resemblance to the ape credited by Nabokov with inspiring Lolita: the one ‘in the Jardin des Plantes who, after months of coaxing by a scientist, produced the first drawing ever charcoaled by an animal’, showing the bars of its cage." (também do artido de Batuman)

No comments:

 
Share