light gazing, ışığa bakmak

Monday, February 11, 2013

logo a seguir à revolução

eu gostava de dizer que era mrpp. lia o jornal do partido e conversava com um velho operário, que me levava o jornal, durante muitas horas. gostava das suas mãos, do enorme bigode grisalho e no mundo de onde ele vinha que eu imaginava a preto e branco, um pouco como a máquina do Navio de Fellini. tudo aquilo era exótico para mim, e aventureiro. --também tinha o seu gosto contrariar a minha própria família, pequenos comerciantes e faz-tudo que sobreviviam, e sobrevivem ainda, nos campos para lá da serra de sintra. para eles, a quem tudo custava o suor da cara a ganhar, em cujas casas tudo era contado e contido, a ideia de um qualquer grupo lá chegar clamando a propriedade dos seus limitados haveres era fonte de grande medo e ansiedade.

muito mais tarde, a paixão por alguém do lado de lá do muro fez desboroar os títulos vermelhos do Luta Popular. as esperas para comprar o mais básico electrodoméstico nas lojas comunitárias, os apartamentos minúsculos e mal acabados pedinchados ao partido, a proibição de ir a qualquer lado, as lojas vazias, o cinzento de Varsóvia, o terror dos russos, a memória das ocupações, a miséria e a pobreza da população das grandes zonas rurais perto da fronteira a oriente.

somos testemunhas, como foram os meus pais, os meus avós, os meus bisavós da mudança do mundo.


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