light gazing, ışığa bakmak

Tuesday, May 28, 2013

esteiros

(na verdade estou-me nas tintas para o neo-realismo).

não estou certa quando mas eu, tal como todos os miúdos da minha geração, tivemos de ler o Esteiros para a disciplina de português. não sei quem gostou na altura nem quem releu mais tarde que não fosse por razões de ideologia política. não me interessa por aí além a ideologia política nem o facto de ser um livro-bandeira do movimento neo-realista e do comunismo português.

a vida de Soeiro Pereira Gomes, como de muitos homens (e mulheres) da oposição ao regime, é admirável e digna de ser lida. não sei se Esteiros ainda faz parte do currículo, talvez não: seria uma boa ocasião para entrar na história de gente cuja realidade está muito longe das estilizações higiénicas dos textos escolares e das histórias da nação.

na altura em que li Esteiros, ainda criança, não me apercebi (só hoje, na verdade) que estava a ler sobre o meu próprio avô paterno, um companheiro, amigo e colega nadador de "Gineto" em Alhandra, o mítico Baptista Pereira, com quem atravessou a nado o Tejo tantas vezes. o meu avô paterno não teve nenhuma glória, nem a de ser mítico, nem, a de ser personagem de um livro-bandeira: nasceu viveu e morreu anónimo e com lugar nenhum em que cair morto, trabalhador braçal desde a infância, trabalhador do campo e mais tarde trabalhador fabril até quase à sua morte. não sei se chegou a ser proprietário de alguma coisa, por ele também eu estou hoje aqui a ler a história dos meninos do rio.

aqui também.

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