light gazing, ışığa bakmak
Sunday, May 19, 2013
islâmico festival
o nosso festival, organizado pela Câmara de Mértola com grande sucesso, atraindo multidões, um evento importante para toda a região mas especialmente para uma vila longínqua e vítima em todos os aspectos do poder central e das políticas brutais de marginalização e de extinção de lugares precisamente como Mértola. é preciso resistir, resistir. (no mapa, quando os turcos eram cristãos e nós, muçulmanos).
também é verdade que, não tendo ligações familiares directas a essa zona que é quase metade do nosso país, as saudades de lá voltar são permanente: há o mar e há os campos alentejanos. o baixo Alentejo é deslumbrante, Serpa troca grande parte do azul pelo cinzento na decoração das casas, as igrejas tornam-se mais abertamente mesquitas, a luz é mais branca, aqui há o circuito do pão que eu muito gostaria de seguir. aqui gostaria de passar largos períodos. a lã, os campos a perder de vista de oliveiras, milhares de pássaros; vi uma ave de rapina ali em frente caçar a sua presa e levantá-la no ar, a mais negra noite, o dourado inacreditável do trigo. e o Guadiana. sem dúvida voltaremos a este lugar, queremos ver as minas, parar na cidade fantasma habitada que é são domingos, queremos fazer a rota das praias fluviais, ouvir as cigarras, sentir os quarenta graus. ouvir as ovelhas para além do vento, rebanhos que adivinhamos ocultos pelas árvores do líquido dourado. julgar a felicidade pelo preço dos objectos de que se reclama posse: uma ideia que só pode ter nascido da pobreza mais envergonhada, humilhada pelo exibicionismo dos ricos. entre gerações as histórias não são interrompidas. [e era isto mesmo: "On top of that, we understand human biology. Humans evolved in situations in which food was scarce. This led to an evolutionary adaptation that causes you to crave salty, sugary and fatty foods."]
cumpri o meu desejo por um chá de menta, não trouxe o tapete, não fiz a henna porque era tinta preta. de resto, havia shoarma, alguns doces e uma grande quantidade de material de feira de origem pouco definida. a maior parte dos vendedores que pareciam magrebinos falavam espanhol, a maior parte dos vendedores que usavam djellaba eram portugueses. os visitantes dividiam-se entre os visitantes da região, os lisboetas no seu barulho irritante e os pseudo-hippies e os rastas. o tempo-limite bem como o tempo meteorológico não ajudaram e não pudemos navegar no guadiana, de barco ou de canoa. Mértola, deslumbrante escarpa mourisca.
Publicado por
Ana V.
às
9:46 PM
TAGS is13, mértola13, Portugal é um país de
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