light gazing, ışığa bakmak

Thursday, May 30, 2013

livros

tirado da Pó dos Livros:

Este é um livro de como os grandes grupos económicos (editoriais) decidem o que lemos. É um livro editado por uma livraria, o que logo à partida nos garante isenção das habituais expectativas de obtenção de lucro imediato.
«O que aconteceu com o trabalho dos editores não é pior do que sucedeu com outras profissões liberais. Mas a mudança que ocorreu no meio editorial é de grande importância. É apenas nos livros que investigações e argumentações podem ser conduzidas de forma prolongada e em profundidade. Os livros têm sido tradicionalmente o único meio no qual duas pessoas, um autor e um editor, concordam em que há algo que precisa de ser dito, e por isso a partilham com o público por um pequeno montante de dinheiro. Os livros distinguem-se nitidamente dos outros meios de comunicação social. Ao contrário das revistas, eles não dependem da publicidade. Ao contrário da televisão e do cinema, eles não precisam de ter uma audiência de massas. Os livros podem permitir-se ir contra a corrente, lançar novas ideias, desafiar o status quo na esperança de que, com o tempo, se atinja um público. A presente ameaça a estes livros e às ideias que contém, a que costuma chamar-se o mercado de ideias, constitui um perigoso desenvolvimento não só para a edição profissional, mas para a sociedade como um todo».

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que ainda hoje pensava da interferência de domínios estranhos na literatura: Esteiros é um livro de programa e nem o merece ser. podia compará-lo aos trabalhadores rurais de Steinbeck ou às cheias de Faulkner mas não creio em comparações desse tipo que soam a humilhação, como Aveiro ser a Veneza de Portugal ou Pamuk o Eco da Turquia, ninguém é outro, nesse sentido de um falso nivelamento em que alguns povos são automaticamente promovidos a melhores do que outros. também pensei que naquela altura, em que Faulkner e Hemingway trocavam piadas, ainda a literatura americana existia e não se tinha tornado um macdonald da escrita, fruto dos milhentos cursinhos de escrita criativa (procedimentos, tudo procedimentos e de procedimentos percebo porque os escrevo). e ainda: Pereira Gomes foi um 'melhor do que os outros' com compaixão numa terra de pobreza extrema, Alhandra. tinha estudado, era doutor e acabou morrendo como a mãe de Gineto, sem tratamento no fundo escuro de uma casa anónima. aqueles miúdos não puderam ser doutores e nenhum deles poderia ter contado a história. a sua história foi possível porque um doutor com compaixão se enamorou deles e lhes deu voz. um pouco mais tarde e um pouco acima no rio, Saramago pode escrever, ele que foi um dos miúdos e já não um estranho. (subindo ainda encontra-se Camões, um rio fértil). quem fez a literatura senão os poucos afortunados (the lucky few). de uma época de extrema felicidade em que tudo era possível, evoluímos para um afunilar de possibilidades mais consentâneo com o passado. mas é pena.


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