light gazing, ışığa bakmak

Wednesday, July 24, 2013

'e o burro está no chão'

dois homens a tentar pendurar um papelão onde estavam escritos os preços da fruta com uma fita de embrulho vermelha e a coisa estava complicada, a mulher da fruta mandou a piada. de cada vez que uma cliente pedia uma fruta ela repetia o nome da fruta muito alto e com voz de fado. o largo de Algés e a área circundante são bem capazes de ser um local representativo do estado da nação. os ricos (quem tem dois ordenados mínimos é agora rico) foram todos embora, não admira, para longe, para o algarve, para a terra, para qualquer lado fora daqui. restam os que vieram, turistas e africanos, e os que estão cá desde sempre, os velhos de Lisboa. no autocarro três idosos falavam em triângulo. ah se eu soubesse naquela altura, dizia uma senhora bonita, talvez setenta anos, que trazia dois sacos de mercearias. a mala ao ombro era de pano e dizia Barcelona. a interlocutora dizia tudo começa e tudo acaba, a propósito do estado de abandono de um canto de Lisboa onde costumava ir. a mulher da fruta também disse está tudo a desaparecer.

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