light gazing, ışığa bakmak

Wednesday, August 14, 2013

degrau

entretive-me um pouco a ver como as mais variadas pessoas desciam um degrau grande, em que se podia cair. entretive-me, acima de tudo, a ver como se comportavam os casais, homem e mulher, perante aquele obstáculo. quem são as mulheres, é sempre a minha dúvida. numa grande parte dos casos o homem dava um passo em frente para saltar o degrau em primeiro lugar. depois virava-se para trás e estendia a mão. a companheira segurava-se na mão dele e descia o degrau. isto passou-se muitas vezes e a curiosidade alterou-se ligeiramente: quem eram aqueles casais que não se comportavam desta maneira?

à entrada do harém de topkapi, um guia turco explicava ao casal norte-americano: as pessoas ouvem harém no estrangeiro e têm uma determinada ideia na cabeça. neste país, quando se diz harém, a palavra quer dizer casa. aqui era a casa do sultão, onde ninguém entrava que não fosse da família. aqui habitava a família, era o espaço privado do palácio.

o querido guia de dolmabahçe, pai de uma menina de cinquenta dias, disse de um modo ainda mais romanesco: o último sultão tinha cinco mulheres e quatro concubinas. ao contrário do que se pensa, o sultão raramente dormia com as concubinas. as concubinas tinham um estatuto menor ao qual podiam fugir unicamente se dessem um filho ao sultão. aí talvez pudessem assistir aos eventos da família. o homem venezuelano que o ouvia comentava com o cliché masculino que uma só lhe dava muito trabalho, com a mulher de sorriso amarelo ao lado. continuava o guia: o sultão tinha nove mulheres no palácio mas o homem tem apenas um coração, não nove. talvez as nove fosse para ocultar aquela que tinha no seu coração.

os dois guias recorrem a ideias romantizadas, ideias que habitam as novelas latinas, para justificar o seu modo de ser, numa espécie de penitência de inferioridade. se dissessem a verdade talvez o mundo ouvisse, mas penso que não. o mundo é surdo.


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