light gazing, ışığa bakmak

Monday, September 2, 2013

'citadel of broken dreams'

entrei na Igreja dos Italianos, normalmente vou à igreja do outro lado da rua: tem pouca gente, é fresca e bonita. nas igrejas gosto da luz e do silêncio. por vezes dos azulejos e da talha. nas mesquitas, descobri, gosto dos desenhos geométricos e também da luz. gosto das mulheres cobertas como um mural de pintura bíblica, marias madalenas ou marias somente. aquela é a igreja das confissões, dizia o padre, há pessoas que vão até de almada porque ouviram que ali há confissão.  estava a decorrer a missa. os arcos junto das janelas lá em cima parecem as costelas descarnadas de um barco em construção. quem fará o restauro daquelas feridas, mais difícil do que o restauro dos pecados. se não se aborrecessem, ia para lá ler.

a queda de uns é a conquista de outros. o governo déspota turco pretende devolver a Hagia Sofia ao culto, depois de Atatürk, o pai da nação, lhe ter atribuído o estatuto de museu. Imagino que Your Fatwa Does Not Apply Here: Untold Stories From the Fight Against Muslim Fundamentalism expressa aquilo que passei a pensar sobre o islamismo. mas, de resto, maior o país, maior a corrupção. aqui é mais uma festa de amiguismo e compadrio, uma coisa suave.

o Papa diz que a guerra traz a guerra.

o porta-aviões em que estive era o centro de controlo da NATO no mediterrâneo mas dirigia-se na altura para o estados unidos para docagem e reparações. suponho que tenha sido substituído por outro semelhante, não sei. seja aquele ou outro, conheço uma pessoa que lá está agora e que associarei para sempre com as acácias invasoras da serra. quando a ordem for dada, vai ser seguida a partir de uma sala onde eu entrei. no outro dia, um americano defendia, um pouco no vácuo, que os sírios deveriam lutar uma 'appropriate war'. como se existissem guerras adequadas.

discursos do absurdo.

"The sea was shrouded in a mist, our boat hidden from view. Istanbul was lost in the mist. Only the minarets of Sultanahmet Mosque, the dome of the Hagia Sophia and the turrets of Topkapi Palace were visible above the haze. The city seemed unblemished and pure, unharmed and untouched, the white mist veiling anything and everything which could blight the view. It was like a vision from an ancient myth emerging for a fleeting moment before the light of the day... A newly founded city, a new start, shimmering in the grey light of dawn... Young, vibrant, and full of hope...
(...)
We were looking at Istanbul from the sea... At our Istanbul, at the city of dashed hopes... The capital of desecrated memories and defiled joys... The citadel of broken dreams... The queen of mourning, a beauty which has been ravaged by guile and exploitation, a land of prosperity infested by greed... We gazed upon our city, at our streets, our gardens, our houses and our graves..."
Ahmet Ümit em Memento for Istanbul, onde nada é o que parece e onde um policial é muitas coisas para além de uma história de detectives.



Mia Couto fala sempre de fugir da perspectiva (e lembrava-me desse ponto da história de que fala Pamuk, o ponto de partida da europa) europeia, de conseguir falar com uma nova voz, um novo vocabulário, expressar o mundo que não o visto da torre europa. penso que é mais do que isso. cheguei a julgar que seria mais fácil afirmar isso dessa maneira quando se tem os pés na europa, quando se fala europeu, quando se aprendeu europeu, quando o europeu foi precisamente a base que permitiu o aparecimento da nova voz. estava errada, uma vez mais, sempre.

venho com o firme propósito de largar a televisão a não ser que se façam iguarias culinárias, que se mostrem famílias no acto da partilha (como este tão bem feito programa de Bourdain na Bourgogne). a ficção suja das notícias, o excesso de blabber sobre nada que invadiu os países do ocidente é assustador e paralisante. a realidade não é a realidade, é preciso desligar tudo, tentar evitar a depressão que todos os meios tecnológicos e mediáticos tentam infligir e voltar a pensar de forma independente. fora da torre europa, a liberdade de pensamento é maior, para nós pelo menos (a evasão). a tecnologia permite condicionar o pensamento pelo excesso como num copo cheio de água em que não se pode deitar vinho. ou dizendo: é preciso o silêncio.

ali em frente ao mar de Marmara encontrei o silêncio.





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