light gazing, ışığa bakmak

Saturday, October 12, 2013

'I grew up kissing books and bread.'

uma frase que, à partida, conquista logo a minha atenção e simpatia. é a abertura de 'Is Nothing Sacred?' de Salman Rushdie, um dos textos traduzidos para a Granta Portugal #2 que, em geral, me parece melhor do que a primeira.

"Joyce's wanderers, Beckett's tramps, Gogol's tricksters, Bulgakov's devils, Bellow's high-energy meditations on the stifling of the soul by the triumphs of materialism; these, and many more, are what we have instead of prophets and suffering saints. But while the novel answers our need for wonderment and understanding, it brings us harsh and unpalatable news as well."
bem capaz de fazer entrar Rushdie no lugar dos a ler, agora no caminho do rising sun. (all in all, um intervalo terá de ser feito para Munro, no futuro, e para Nina, num futuro muito próximo).

aqui, 'Is Nothing Sacred?'

aqui, o livro todo.

(ou talvez não)

este artigo foi escrito no final dos anos noventa, como o mundo mudou entretanto... há demasiadas coisas com as quais não posso concordar. algumas foram provadas erradas entretanto, outras porque o autor simplesmente verga a realidade para caber dentro dos seus argumento. fé e não fé, o moderno como o homem de não-fé, com o que não concordo de todo. embora para mim não exista fé em nada, talvez no poder de atracção entre os corpos celestes ou na perfeição e equilíbrio do mundo animal, mas de resto, mon ami, nada vezes nada - embora esse vazio, existem os outros para quem o religioso existe, deus, os deuses, os corpos celestes, as almas, os espíritos, as vozes do mundo, os suspiros das divindades aladas, o sopro da terra, a magia das luz e dos cometas e por aí fora. e não são menos modernos por isso. já foi tempo da exclusão, já foi tempo da supremacia branca, da superioridade moral, da relevância intelectual e artística. enfrentemos os factos: o mundo já não nos pertence.

como aqui: mas não! o rapaz vence porque o seu coração é novo e puro, porque precisamente acredita na normalidade, no senso comum, na amizade e nos valores que ganhou no continente americano: simples, da terra (assim se liga e compreende o 'selvagem' que carrega crâneos) - contra o velho obsessivo, o velho mundo, o vício, a visão viciada, a mania. (longe de Conrad, o coração da verdade não está nas trevas  -não era da banalidade do mal que se falava? é ver Billy Budd onde o bem e o mal se confrontam: pode uma alma pura ser levada para as trevas?)

"Moby Dick enfrenta esse desafio ao oferecer-nos uma visão negra, quase maniqueísta, de um universo (O Pequod) nas garras de um demónio, Ahab, e encaminhando-se inexoravelmente para outro: a Baleia. O mar sempre foi o nosso Outro, manifestando-se ante nós sob a forma de monstros - o dragão Uróboro, o polvo Kraken, o Leviatã. Herman Melville mergulha nessas águas escuras para nos oferecer uma parábola extremamente moderna: o capitão Ahab, possuído pelo seu fascínio, morre; Ismael, um homem destituído de sentimentos fortes e de crenças absolutas, sobrevive. O homem moderno centrado em si é o único sobrevivente; os que adoram a baleia - uma vez que a perseguição é uma forma de adoração - morrem pela baleia."
diz Rushdie em "Is Nothing Sacred?"

[não tinha reparado: hoje foi 13.10.13. e está quase a acabar.]

um pouco à frente, aqui onde Rushdie acertou para falhar logo a seguir:
"Parece provável, também, que nos estejamos a dirigir para um mundo no qual não haverá alternativa real ao modelo social liberal-capitalista (excepto, talvez, o modelo teocrático, fundacionalista, do Islão). Neste contexto, o capitalismo liberal, ou democracia, ou mundo livre, exigirá a mais rigorosa atenção, exigirá como nunca antes a capacidade de re-imaginar, questionar e duvidar. «O nosso adversário é o nosso adjuvante,» disse Edmund Burke, e se a democracia já não tem a ajuda do comunismo para clarificar, por oposição, as suas ideias, então talvez tenha de encontrar na literatura, em substituição, um adversário." (Rushdie)

a literatura como substituição do comunismo, céus.
o problema de julgar que o futuro é um lugar pequeno.



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