a memória está mais próxima da ficção do que da realidade. olhar para as nuvens e ver figuras, para as estrelas e ver heróis, para os animais e ouvi-los falar, para as aves e ver augúrios, para a luz e ver a virgem, para um malmequer desfolhado e ver amor.
pelo meio das imagens reparei que não era aquilo que queria apanhar, mas sim a memória doce que guardava. aquilo não era senão um cenário, um jardim de oportunidade, a ratoeira.
um exercício: num Outubro de sol, chegar à vila por volta das oito e quarenta e cinco, ir ao café central (levar um livro ou um jornal) e pedir um pequeno almoço demorado como meia-de-leite e torrada. depois ir ficando até às dez da manhã, hora em que quase todas as lojas já abriram. é bonito ver a vila (velha, como lhe chamam agora) a despertar, as mesas a ser montadas, os primeiros autocarros a despejar os primeiros turistas que saem aparvalhados para a manhã luminosa, as primeiras carruagens e seus os cavalos, as furgonetas de entregas, os funcionários que estacionam o carro lá mais à frente onde não se paga, o quiosque a abrir a janela e o mostruário dos postais a ser posto cá fora, os lugares de parqueamento que se enchem de repente, os electricistas, canalizadores e carpinteiros a chegar nos seus fatos azuis com logótipo, bom dia bom dia. o casario é azulado porque está na sombra da serra. por volta das nove e pouco o sol ergue-se acima do pico do castelo e os seus braços chegam obliquamente ao chão, lançando longas sombras. a névoa dissipa-se e o que começa por ser umas poucas folhas acesas num determinado ramo acaba por se tornar num excesso de luz brilhante a bater na parede branca do palácio. os turistas chegam e tapam a vista com as mãos, afundam mais os chapéus nas cabeças, colocam os óculos mais escuros. é a luz.
também se pode ignorar tudo isso e entrar na Piriquita, apenas uma ou duas mesas ocupadas a esta hora, e pedir um café e um travesseiro, quente, acabado de sair do forno.
light gazing, ışığa bakmak
Friday, October 11, 2013
memory is closer to fiction (2)
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