concerto de abertura da chamada 'temporada moderna' da orquestra metropolitana no ccb onde tive a enorme alegria de reencontrar alguns amigos queridos de há muito. o anúncio e o desenho da temporada da oml (sim, agora chama-se 'metropolitana', mudança de nome para tentar fazer esquecer o seu criador e fundador) agradaram-me finalmente e pareceu-me que, ao fim de anos, a oml tem novamente uma direcção pensante. alguns programas atraem-me, não pelos grandes nomes mas porque parecem ser mais do que uma amálgama de obras. apesar dos pesares, o desenho de uma programação com motivações unicamente artísticas pode levar a alguma falta de contenção económica e penso que é o que acontecerá na metropolitana. se as obras são escolhidas sem constrangimentos de orçamento, não sei até quando dura o orçamento, mas isto sou eu a especular.
também tenho pena que não exista uma 'temporada contemporânea': tendo em conta a forte vocação educacional da metropolitana, colocar-se no tempo presente e incluir mais nomes portugueses talvez não fosse má ideia. olhando melhor para a programação, vejo obras que há muitos anos fazem parte do reportório da orquestra e que os músicos tocariam vendados e sem partituras. vejo que não há inovação de maior na escolha de reportório (afinal); que os concertos de música de câmara, que foram já o coração do projecto, não passam de uma sombra; que os patrocinadores quase desapareceram para deixar a orquestra ser agora uma orquestra da cidade (e não metropolitana); que das 12(?), 14(?) câmaras com que a orquestra colaborou restam três; que as acções educativas nas escolas de toda a área metropolitana de lisboa (ah, mas isso não dá lucro, pois não?) desapareceram, etc., etc. --para além de tudo, a mim choca-me particularmente que o nome do criador e fundador da orquestra, Miguel Graça Moura, apesar do muito que tem nas suas costas, não seja mencionado em qualquer texto que vi sobre a orquestra.
o que me levou ao concerto foi o programa. a Simple Symphony foi uma escolha natural para a oml desde o tempo em que era uma orquestra de cordas. tive pena que por vezes parecesse fragmentada no ccb e que o som não enchesse a sala. lembro-me de ouvir esta obra amável no Palácio da Ajuda ou de Queluz, locais onde parece que a oml deixou de actuar. a Suite de Shostakovich foi o meu momento alto: o humor russo, o drama e a exuberância desbragada - como algumas linhas de música podem exprimir tão completamente toda uma cultura é algo que me surpreende de cada vez. e ainda: é neste ponto, pensei, que iniciámos o fim: aqui onde a linha melódica se distorce num esgar trocista ou na espera de Vladimir e Estragon; aqui neste ponto Hamlet já não é sério, a estrutura ocidental quebra-se mas está-se antes da guerra, adivinha-se o abismo mas ainda não se viveu o abismo. esse mesmo sentimento é audível nas Illuminations de Britten sobre o texto de Rimbaud, iluminações sombrias em que a escuridão espreita com ameaça. gostei de ouvir Sara Braga Simões, não gostei assim tanto da direcção que me pareceu pouco... dirigente. gostei de ouvir o clarinete Nuno Silva. gostei do chefe de naipe dos violoncelos, Flanagan, a emprestar um pouco de alma ao ventrículo direito da orquestra.
pergunto-me: se a metropolitana já não é metropolitana, então é o quê? ah desgraçado ano para as artes em Portugal, mas desgraçada década para um ovo de colombo que já foi esta orquestra. aos responsáveis pela sua queda ninguém pedirá contas, até pelo contrário.
light gazing, ışığa bakmak
Monday, October 28, 2013
metropolitana no ccb com sara braga simões
Publicado por
Ana V.
às
1:05 AM
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment