light gazing, ışığa bakmak

Monday, November 11, 2013

Elia Suleiman ('what is plot?')


é muito provável que isto aconteça em muitos lugares do mundo, mas parto sempre do princípio que Lisboa é especial, que aqui só isto acontece. Paulo Branco consegue trazer à cidade um conjunto de realizadores que apresenta a quem o desejar enquanto decorre o seu festival de cinema. Elia entrou no Nimas e comentou que este era o público mais pequeno que tinha visto e era verdade: para além das meninas e dos meninos do festival a abrir portas e cortinas e a filmar e tirar fotografias, o público era reduzidíssimo mas interessado. aqui falou o realizador num ambiente de café ou esplanada, sem microfones, andando pela sala até à sala de projecção, tiraram-se cadeiras e viu-se em primeira mão e com os comentários de Suleiman um filme encomendado - 15 minutos ou um dia em Havana a que Suleiman chamou Diary of a Beginner.

a sua voz é suave e entretém-se em pensamentos ao falar, aborrecem-no todas as ideias que se esperam e aguarda com a maior paciência pelos momentos em que se acende a chama do inusitado, o que está fora da ordem, o incidente. Suleiman tem mais poesia do que congressos de poetas. poesia, humor e ideia pura.

a imagem do balão com a cara de Arafat que passa flutuando a sorrir sobre o posto fronteiriço é ultrapassada apenas pela história do realizador: estava em Paris desanimado, deprimido com o impasse a que tinha chegado o seu argumento. numa gaveta do seu apartamento encontrava-se um amontoado de souvenirs da Palestina, isqueiros, bonecos, folhetos. e um balão com a cara de Arafat. ao tirá-lo da gaveta o balão ficou preso no fundo e teve de o puxar. a cara de Arafat disforme, elástica. assim chegou a ideia da cena.

o que é um plot? uma situação caricata é uma história? um realizador cansado da 'narrativa' sobre a Palestina que se atreveu a introduzir o humor. depois de Intervenção Divina, diz, lançaram-lhe fatwas, cuspiam-lhe e insultavam-no na rua. qualquer pessoa o compara a Tati como o Estoril à Riviera, mas tudo se perde nessas comparações sem sentido. o non sense no cinema, como a prosa breve na literatura, desafiam a categoria tempo.

no final dizia Suleiman a Branco: temos de ir, tens um filme já a seguir! e era verdade, o muito público da sessão seguinte esperava lá fora e, ao entrar, nem deu por quem saía.



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