light gazing, ışığa bakmak

Sunday, April 13, 2014

Borodino



museu panorama de Borodino em Moscovo.







quando Pamuk diz que 'the novel' (se bem que o género seja tradicionalmente discutido neste caso porque existem digressões e factos históricos o que, julgo, é ainda mais um sinal de que este é um romance) é a forma mais maleável e que permite tudo nele incluir, essa afirmação é visível na descrição da batalha de Borodino. por muitas recriações de cinema, pintura, clips, esquemas de guerra, estratégia, etc. etc. duvido que alguma forma consiga dar o extremo 3d (ou 4d ou 5d, etc.) da narrativa de Tolstoi que nos faz viajar através do campo de batalha, cheirar a comida e os mortos, enterrar os pés na lama, ficar surdos com as explosões, sentir o que é ser atingido, olhar para a vista panorâmica, ver as cores e as luzes da neblina, sentir 'a alma da batalha'. stendhal pode ter ido longe em austerlitz no vermelho e o negro, mas este terceiro livro ultrapassa aquilo que se pode julgar ser possível fazer com palavras.

a última imagem é a do conselho de guerra em que Kutuzov decide a retirada e a entrega de Moscovo a Napoleão (ou a confirma pois, como afirma Tolstoi, essa retirada estava já decidida). baseia-se na narrativa de Guerra e Paz porque vemos a miúda na prataleira sobre a chaminé, entretida a ver os homens que lhe ocuparam a sala para uma das reuniões mais dramáticas da sua história. depois de termos assistido ao vivo à chacina de 50.000 russos, Tolstoi faz-nos assistir a esta reunião através dos olhos de uma menina com fome para jantar e que, nos seus pensamentos, chama 'avô' ao general. uma ekphrasis in reverse.

(sobre esta cena o sr. percy lubbock em 1921 diz que Tolstoi escolhe o ponto de vista ao calhas, ora é kutusov, ora napoleão, ora uma miúda. daquelas coisas que fazem rir. o mal é que há gente a ler o sr. lubbock. se não houvesse eu não o tinha encontrado)


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