light gazing, ışığa bakmak

Sunday, May 11, 2014

pois café






o que se passa em alfama e o que se passa em alfama num domingo de sol. onde está o pois café, que conheci há razoavelmente pouco tempo, estão agora mais quatro estabelecimentos parecidos. só um deles estava fechado ao domingo, as sandes gourmet logo em frente. os outros estavam abertos e cheios de gente, assim como a nova esplanada do pois café.

o plástico inundou o 'genuinamente português' ou 'a tradição', o que não deixa de ser engraçado por um lado e triste por outro. queremos é festa. grande parte das vestimentas que adornam e acompanham as máscaras tradicionais, quando não as próprias máscaras, são feitas de plástico, o que me leva a pensar que há qualquer coisa estranha na tradição de tudo. necessídades do efémero e da sociedade do espectáculo (Debord, era) ou da distracção, esforço por uma tarde de festa. agora que comecei, depois da fase living the norwegian way, a fase tolstoi - ou seja, medir tudo pelo tempo natural como contraponto ao tempo histérico da vida digital, o plástico e os festivais, os eventos, as máscaras... os conteúdos! tudo faz parte da mesma boa vontade instalada. mal não faz, enfim.

alfama é corrida por grinaldas de plástico colorido que fornecem a qualidade festiva ao antigo bairro. paradoxalmente, as antigas grinaldas eram feitas de um efémero papel para a ocasião especial. agora, na idade do efémero, as grinaldas permanecem o ano todo e a ocasião deixou de ser especial. trocámos os sentidos.

num domingo de sol, as ruas estão cheias de americanos e franceses, os primeiros com as suas pequenas mochilas e os livros-guia. os segundos, mais perdidos e sem saber o caminho (não têm garrafas de água), apreciam melhor o peixe grelhado com espinhas. falamos de ideias-feitas, mas é ver muitas delas em acção no coração de alfama. nas escadas e túneis que conduzem ao rio, ouve-se água a correr sem se saber de onde.

num dos largos um grande cartaz: futuro museu da judiaria (judaico). acho absolutamente excelente: assim transformamos e preparamos este bairro para o futuro, objecto de foto e de mirones, se for museu vivo - isto é, com gente verdadeira lá dentro, melhor ainda. um dia alguém larga tudo e vem viver para aqui, para a cidade pérola, para o bairro labiríntico onde o homem ainda diz às raparigas de mochila - tenham um bom dia e fiquem bem, hã? embora elas não percebam uma palavra, nem sequer com o livro-guia ou com o iphone.

em todas as portas, quase, há agora fado. depois de anos de deserto, descobre-se o património mundial para o negócio. em caminho paralelo, descobre-se o genuíno (ah, tiago pereira) e em algum lugar as coisas cruzam-se - 'mercearias' de produtos típicos onde se cantam afinal coisas genuínas e talvez deixe de fazer sentido separar águas, de um lado o plastificado, do outro a coisa verdadeira. porque tudo convive no mesmo local.


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