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Sunday, September 28, 2014

Um Pequeno Gesto, Uma Grande Ajuda: 10 anos

10 Anos UPG -Discurso Presidente e Fundadora Sara Vicente

Este é potencialmente o discurso mais difícil que alguma vez concebi. Condensar 10 anos em 10 minutos...
 “A UPG é como um amigo muito presente, por isso posso dizer que é permanente e a criança sente uma dedicação pronta e disponível, momento a momento, para o seu crescimento e bem estar”. Estas são as palavras da Irmã Isabel, 10 anos depois da minha chegada a Moçambique como voluntária.
Começo com ela porque foi com ela que tudo começou, no dia em que me levou a Chiaquelane porque era uma vergonha voltar a Portugal sem ter conhecido mais do País. Ali estavam 30 crianças que viviam “do ar” ou da ajuda que as vezes chegava.  A minha cabeça não conseguiu fazer sentido da situação, e do quão acessível seria para mim tentar mudar alguma coisa.  Vendo 30 crianças nesta condição, sabia que tinha 30 amigos que poderia convencer a ajudar.  1 mês mais tarde, já em Portugal e a caminho de Londres, nasceu a Um Pequeno Gesto.

Há 10 anos atrás, a Um Pequeno Gesto era apenas isso. O meu pedido a 30 amigos de Um Pequeno Gesto que pessoalmente me comprometi a transformar numa Grande Ajuda a 30 crianças.  Muitos estarão aqui hoje e admitirão que, tal como eu, não saberiam que 10 anos mais tarde, estaríamos neste lugar, a celebrar mais de 1000 Pequenos Gestos anuais de todos vós, que chegam a quase 2000 crianças Moçambicanas por ano.

Esta é uma noite de celebração, e como tal, cabe-me lembrar a todos os que estão presentes o porquê de estarmos a celebrar.  Em 10 anos de trabalho, a Um Pequeno Gesto:
Apoiou mais de 11’500 beneficiários incluindo hoje quase 900 crianças Apadrinhadas.
Aplicou mais de €800’000 no terreno, directamente nas crianças ou nas comunidades.
Deu uma nova casa a mais de 30 famílias, construiu 5 novos furos comunitários abrangendo mais de 4’100 beneficiários.
Deu acesso à educação a mais de 1500 crianças por ano, entre educação pré-escolar, primária ou secundária e universitária, vendo o seu primeiro bolseiro universitário o Silvestre acabar o curso este Verão
Apoiou cursos de educação técnica para crianças e jovens, procurando dar bases académicas e ferramentas adaptadas à realidade local, com cursos de costura, artesanato, informática, carpintaria ou serralharia.
Respondeu de forma incansável às cheias de 2013 no sul de Moçambique, angariando mais de €70’000 em Portugal e Londres, aplicados em ajuda de emergência e reconstrução nas nossas áreas de intervenção.

A UPG surpreendeu-me pelo seu interesse por cada uma das crianças Apadrinhadas.  Muita esperança renovada em centenas de crianças, graças aos Pequenos Gestos de padrinhos”, são as palavras do Padre Rosendo, nosso parceiro por vários anos em Chongoene.

Ainda que os números cresçam todos os anos, o objectivo não é apenas chegar a mais crianças mas chegar a cada uma delas individualmente. Dantes, sabia o nome de todas as crianças e padrinhos de cor, mas quando crescemos o número de 90 para 375 num ano, a memória falhou.  Mas mesmo não sabendo todos os nomes e histórias das 900 crianças apadrinhadas hoje, um de nós sabe – um dos membros da equipa, dos voluntários ou dos parceiros.  Cada cara tem um nome, uma história e uma família. O Silvestre tem um projecto de construção de tijolos com 15 colegas da comunidade; o Arnaldo quer abrir um centro informático em Chongoene; a Clarência, Apadrinhada pela UPG, ganhou o concurso de soletração da Escola de SLM.

Esta noite não é apenas uma noite de celebração. Esta noite é também a noite que lança a fundação e o sonho dos próximos 10 anos de trabalho. Sim, o nosso objectivo é que um dia não tenhamos um plano e não tenhamos objectivos, porque já ninguém precisa de nós. Mas sabemos que esse dia está longe e o trabalho multiplica-se à medida que nos envolvemos mais nas comunidades onde estamos.  Ao mesmo tempo, os sucessos são frequentemente contaminados com desistências de crianças que querem sair da escola para ir trabalhar, de meninas de 12 anos que engravidam, de crianças que morrem com malária, de cheias que deitam abaixo as casas e escolas construídas, entre muitos outros pesadelos logísticos que o trabalho no terreno pode trazer. Não seria justo não lembrar as dificuldades diárias no terreno, porque cada vitória que temos é o resultado de muita luta, nossa e dos nossos incansáveis parceiros locais, que acompanham no terreno as crianças e as comunidades.

Mas cada dificuldade é compensada por cada criança que é afectada por um toque de Um Pequeno Gesto – a criança que num ano tem medo de se aproximar, e no ano seguinte nos dá a mão para nos ensinar a dançar, a criança que aprendia as letras debaixo de uma árvore e agora tem um tecto e uma secretária na Escolinha Flor da Infância, a criança que diz que quando for grande, quer ser Directora.  O balanço é sempre positivo.

Porque queremos continuar o nosso trabalho e celebrar cada vez mais vitórias, esta é uma noite de angariação de fundos.  Uma noite em que estamos a angariar para uma das nossas maiores expansões de sempre, um programa de alimentação diária para 802 crianças na Escola de Santa Luisa de Marillac. Começámos este programa o ano passado, no seguimento das cheias que devastaram a região e inundaram a escola e todos os bens das famílias circundantes.  Para uma organização que começou com 50 crianças apadrinhadas, este salto precisará de muitos pequenos gestos. Esta noite, não faltam oportunidades para poderem contribuir para este projecto.

Para os que se perguntam se tão Pequenos Gestos fazem mesmo a diferença, falo sempre de alguns números, já que a UPG é gerida por gestores e economistas.  A UPG procura aplicar mais de 90 cêntimos por Euro directamente nas crianças. Estes valores são o resultado do enorme esforço de uma equipa de voluntários em Lisboa, Londres, Moçambique e o mundo, que permitem maximizar cada donativo.  Quando falamos de cêntimos, parece que não importa. Mas quando 20 cêntimos por dia alimentam uma criança na Escola de Santa Luísa de Marillac, todos os cêntimos importam. Esta noite poderíamos ter gasto €10’000 a receber-vos se tivéssemos seguido os padrões habituais.  Mas graças ao trabalho incansável da Patrícia e da Marta, da generosidade do nosso anfitrião Vasco Aragão, da participação do DJ Baratta e Selma Uamusse, e dos mais de 40 sponsors que doaram inúmeros bens para leilões, rifas, materiais gráficos e cocktail, os custos do evento estão a um décimo deste valor e mais do que cobertos pelos patrocínios angariados. Todo o vosso contributo esta noite vai ser gasto localmente com as crianças.

Depois deste apelo, resta-me parar e agradecer os últimos 10 anos. São maiores os sucessos do que os percalços, são mais as crianças que crescem, se desenvolvem e aprendem a sorrir do que as que se apagam de um mundo em que não escolheram viver.  Sabendo que não conseguirei dizer todos os agradecimentos que tenho em dívida dos últimos 10 anos, há uns que não posso deixar de fora:
Obrigada a todos os que acreditaram que era possível e se aliaram ao meu primeiro apelo há 10 anos atrás. Sem a vossa confiança, não saberia como continuar.
Obrigada a todos os padrinhos, alguns em dificuldades financeiras, e que não desistem de apoiar o seu afilhado em Moçambique.  Da Escolinha do André vem a mensagem “Os Padrinhos são tão importantes para estas crianças que cada uma sabe dizer o seu nome, apesar da dificuldade de expressar a alegria de quanto os padrinhos são importantes para eles”.
Obrigada a todos os doadores, pequenos ou grandes, porque cada gesto à medida de cada um é importante para nós.
Obrigada a todos os parceiros e  voluntários que dão o seu tempo e dedicação para que a UPG possa ir mais longe, tanto com meses no terreno, como horas semanais de casa ou na sede.
Obrigada a todos os que tornaram a noite de hoje possível, minimizando os custos e maximizando o valor para as crianças moçambicanas. Na organização, uma nota especial para a Patrícia, a Marta e a Diana. A Patrícia é minha irmã, e apesar de ter estado no grupo inicial dos 30 Padrinhos que me apoiou, penso que o fez apenas porque não tinha muita opção. 10 anos mais tarde, é responsável pela angariação de fundos da UPG e ALG e a força motora que dá fundos aos projectos que queremos fazer.
Obrigada aos meus pais, família e amigos, que por muito que se queixem de que não tenho tempo para nada e ando sempre a correr, sabem que fizeram de mim o que sou hoje. Apesar do cepticismo inicial, a minha mãe é a força da natureza que hoje tomou a minha tarefa de saber o nome de cada Padrinho e criança e coordena as operações em Moçambique, de Portugal. É ela que muitos Padrinhos identificam como a voz da UPG em Portugal.
E um obrigada especial ao Bernardo, pelo apoio incondicional da minha escolha de ter duas profissões e de nunca se cansar de me ouvir falar das crianças que hoje também já são também dele.

Não podendo alargar-me mais resta-me parar e seguir um conselho amigo e focar-me no que conseguimos alcançar, com a vossa Grande Ajuda, com muita alegria. Parabéns UPG. Parabéns pelo que alcançámos juntos pelas crianças.

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daqui.

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