ou algo parecido é dito pelo presidente da câmara corrupto em Leviatã, com ligação directa a Grapes of Wrath. expropriação, espoliação. (quantos são os espoliados pelos um por cento e ainda: pensar saber discutir ou sequer resistir são fúteis? pergunta talvez respondida em parte por Citizenfour). este cinema tornou-se literatura e tanta 'literatura' que se transformou no outro cinema-pipoca.
de Andrey Zvyagintsev já tinha visto o cruel Elena, mas este filme ascende a uma liga de todo diferente, do quotidiano às grandes ideias, à história, à religião, ideologias, muitas palavras que se costumam capitalizar. que bonita é Elena Lyadova! e que inesquecível a cara do polícia que precisa constantemente de reparações no seu velho carro.
em ano de pouco cinema, é uma sorte fazer poder fazer seguir Leviatã a Sono de Inverso e a uma entrevista de John Gray, todos a falar de certo modo da mesma coisa, com aproximações bastante diferentes. se esta história do mar de Barents, com os seus azuis profundos, os madeiras-cinza, e os floreados dos tecidos de interiores (que encontrei nas cozinhas de Eugenia Maximova) é uma história de ideologias perdidas, dos grandes movimentos do povo, do homem comum, uma história do século vinte, ou de pós-século vinte em que as conquistas foram perdidas (John Gray que diz o evidente: as conquistas foram feitas à custa de mass murder). e também vejo Gogol e Tolstoy na clareza das suas personagens, no presidente da câmara com o retrato de Putin nas suas costas, numa das mais hilariantes cenas de crítica política que já vi - os quadros com os retratos de todos os grandes líderes da Rússia que vão servir de alvo aos quatro homens embriagados que brincam com armas num piquenique remoto de fim-de-semana. Ceylan, onde me revejo, acredita menos em deus, e muito menos em ideologia mas é dele o gesto mais ideológico de todos: o homem do povo que rejeita o dinheiro que o compra. em Leviatã ninguém resiste, todos se conformam, até o homem espoliado.
que grande filme. a ver assim neste contexto: Sono de Inverno e John Gray.
a great paragraph from here.
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