Imbuída em espírito
político, ou melhor, muito semi-político pois desde que subscrevi o grande
líder Sócrates nunca mais me apanham noutra (nunca digas nunca) e tenho sido
uma nomad das ideias desde então –
bem, imbuída em espírito político, fui ver O Jovem Marx. Contrariei a regra que
sigo para artistas e escritores: quero lá saber das vidas e amores,
interessam-me as obras, o resto é conversa cor de rosa.
Neste caso, (e como
“nunca digas nunca) a candura de algodão doce do filme fez-me pensar, durante
todo o filme, em: - primeiro, os milhões de mortos que seguiram; - segundo, no
incrível perigo das boas intenções. Este último aspecto interessa-me
particularmente até porque pinta um retrato da minha vida. As ideias, essas
boas intenções humanas, e aquilo que está na base do que somos no conjunto dos
seres vivos e no conjunto das galáxias a girar no espaço profundo, são o que
nos transforma fatalmente em ícaros condenados. Existe alguma boa ideia sem a
correspondente queda?
O filme é um pouco
arrastado e pode tornar-se entediante para quem não se interessa muito pelo
conteúdo, o que não foi o meu caso. Com surpresa, amei o final: Bob Dylan a
cantar a Like a Rolling Stone com
imagens de muitas situações posteriores ao Manifesto Comunista mas que justificaram
e continuam a justificar o sonho de Karl Marx.
Feita para mim no filme foi
a personagem Mary Burns, a mulher não casada de Engels, com quem tanto me
identifiquei. Dela diz a Wikipédia: “Não foi escrita muita coisa sobre Mary
Burns. As únicas referências directas que sobreviveram é uma carta de Marx para
Engels por ocasião da sua morte dizendo que ela tinha uma boa natureza e era
esperta e uma carta da filha de Marx dizendo que ela era muito bonita e esperta”.
Enfim, não sabia ler nem escrever, o habitual nos confins da história das
mulheres e a regra geral no apagamento radical das suas existências. Mary Burns
no meu coração.
No comments:
Post a Comment