Kaurismäki vive em Portugal há décadas e fala português mas nunca tive a sorte de o ver, embora apareça de vez em quando. vejo-o no cinema e é um dos realizadores a que mais gosto de voltar. as cores, o ambiente que ele quer Chaplin mas que lhe sai Lynch, um Lynch empático (agora que tenho andado com essa palavra na boca). à noite bloqueio mas o dia está de feição para um chá de laranja com casca, mel, pau de canela. a banda sonora de The Other Side of Hope é algo que gostaria de receber como prenda. existe uma list no Spotify que andei a ouvir uns dias (sempre a lembrar-me do J.) mas queria mesmo era aquela banda sonora. o décor do restaurante é hilariante, a paleta de cores mata-me quinze vezes por segundo, eu que pensava que a Finlândia vivia de branco brilhante e azul. a chegada do navio ao porto de Helsínquia tirou-me logo da cadeira do Ideal para o Tramp Steamer e para esse livro com que sonho há tanto, as histórias do Maqroll.
quanto à comédia-tragédia e a vida de um refugiado que submerge de um mar de carvão - essa imagem que tem sido associada a várias outras na história do cinema, fez-me lembrar o Charlie Sheen a emergir pintado do rio do apocalipse. de repente existe, é um humano, e está onde não devia estar. os dois actores, os dois lados da esperança (qual é o outro lado? este ou aquele?) são o oposto de uma situação e no entanto comunicam, ligam-se e são capazes de rir e fazer rir. procuramos sempre alguém que se escapa nas circunstâncias. mas alguns, sem ter pedido nada, foram expulsos e essa violência, a negação da identidade, muda tudo.
light gazing, ışığa bakmak
Monday, November 13, 2017
Kaurismäki, the other side of hope
Publicado por Ana V. às 11:35 AM
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