light gazing, ışığa bakmak

Sunday, July 6, 2014

'nada do outro mundo'

não adoro ficção científica e é preciso que esteja bem urdida para a ler: ou a coisa já é impossivelmente longe da realidade e aí vive-se bem no outro mundo, ou se está neste e de repente a realidade parte-se e a coisa começa a resvalar. é do resvalo que não gosto por aí além. o primeiro conto de Nada do Outro Mundo de Molina estava perfeitíssimo em todos os detalhes até ao momento glorioso em que o personagem deixa ficar o gira-discos na casa tomada do amigo com o tchaikovsky invasor. o depois disso era escusado e vou tentar esquecer as três últimas folhas da história: parece que me arrastaram para o cinema e voltei aos gremlins, aos mortos-vivos e a outras cenas tristes da indústria americana. o choque foi tanto maior quando o que eu estava a gostar da escrita e do modo de ver. por vezes, demasiado perto, demasiado vizinho.

(na nota anterior reparo que não tinha nemésio em tag. que falta. nemésio-brandão, uma dupla que gosto de ler. gostaria de acompanhar a sua viagem conjunta à Madeira. lê-los e magicar sobre a natureza da língua portuguesa, o seu uso, o 'turismo de escritor' que veio a dar em "literatura de viagens",  a natureza da viagem e a sua passagem a texto - a observação, observar o quê, ou como. quem vai em viagem e porque razão. a noção antiga de pitoresco. a noção antiga - e repescada - de tradicional, de português. a língua é tão reveladora e tão funda como o oceano, navega-se nela para descobrir ou para voltar no tempo ou para criar de novo como Gogol a cada curva da linha a criar uma personagem inesperada. não é o o dedo oponível, mas são as palavras o que nos perde.




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