light gazing, ışığa bakmak

Wednesday, March 26, 2008

erótica

"Outrora (numa época em que a arte erudita era escassa), era talvez revolucionário e criativo interpretar obras de arte. Hoje já não é. Decididamente, hoje não precisamos de assimilar mais a Arte ao Pensamento, ou (pior ainda) Arte à Cultura.

Hoje, a interpretação pressupõe a experiência sensorial da obra de arte, e parte daí. Mas isto não pode ser considerado um pressuposto. Pensemos na mera multiplicação das obras de arte que se oferece a cada um de nós, acrescentada aos sabores, odores e visões conflituosas do ambiente urbano que bombardeiam os nossos sentidos. A nossa é uma cultura baseada no excesso, na superprodução; a consequência é uma perda constante de acuidade da nossa experiência sensorial. Todas as condições da vida moderna - a sua plenitude material, a sua simples aglomeração - combinam-se para entupir as nossas faculdades sensoriais. E é à luz das condições dos nossos sentidos, das nossas capacidades (e não das de outra época), que a tarefa do crítico deve ser avaliada.

O que importa agora é recuperar os nossos sentidos. Devemos aprender a ver mais, ouvir mais, sentir mais.

Nossa tarefa não é descobrir o maior conteúdo possível numa obra de arte, muito menos extrair de uma obra de arte um conteúdo maior do que já possui. A nossa tarefa é reduzir o conteúdo para que possamos ver a coisa em si.

Hoje, o objectivo de todo o comentário sobre arte deveria visar tornar as obras de arte - e, por analogia, a nossa experiência - mais e não menos reais para nós. A função da crítica deveria ser mostrar como é que é, até mesmo que é que é, e não mostrar o que significa.

Em vez de uma hermenêutica, precisamos de uma erótica da arte."

Susan Sontag em Contra a Interpretação

Once upon a time (a time when high art was scarce), it must have been a revolutionary and creative move to interpret works of art. Now it is not. What we decidedly do not need now is further to assimilate Art into Thought, or (worse yet) Art into Culture.

Interpretation takes the sensory experience of the work of art for granted, and proceeds from there. This cannot be taken for granted, now. Think of the sheer multiplication of works of art available to every one of us, superadded to the conflicting tastes and odors and sights of the urban environment that bombard our senses. Ours is a culture based on excess, on overproduction; the result is a steady loss of sharpness in our sensory experience. All the conditions of modern life--its material plenitude, its sheer crowdedness--conjoin to dull our sensory faculties. And it is in the light of the condition of our senses, our capacities (rather than those of another age), that the task of the critic must be assessed. What is important now is to recover our senses. We must learn to see more, to hear more, to feel more.

Our task is not to find the maximum amount of content in a work of art, much less to squeeze more content out of the work than is already there. Our task is to cut back content so that we can see the thing at all.

The aim of all commentary on art now should be to make works of art--and, by analogy, our own experience--more, rather than less, real to us. The function of criticism should be to show how it is what it is, even that it is what it is, rather than to show what it means.

In place of a hermeneutics we need an erotics of art.

pp.4-14, here.

2 comments:

Anonymous said...

E a partir daí... a partir daí, deixa o corpo de ser uma ficção para se tornar numa "localização".

Beijos hoje ribatejanos.

Ana V. said...

Ou filtro ou olhos quintuplo-partidos, "inteligência" emocional?
Beijos hoje demi-lisboetas. :))

 
Share