light gazing, ışığa bakmak

Wednesday, March 12, 2008

matronas americanas ou American madonnas

Já em Alexandra Alpha, a mulher liberta. A falta de sinais no corpo e a ausência de grandes pecados anunciam-me uma queda quase inevitável. Eu, que gostava de a levar ao colo, vou por enquanto seguindo a sua trajectória nervosa pela(s) cidade(s). E ali, precisamente, where I went wrong. Devia ter sabido que uma serpente nunca se ajeita no molde de uma matrona. Águas passadas.

Alexandra sentou-se em cima da cama e acendeu o primeiro cigarro da manhã. Diante dela, no espelho da porta do quarto, via uma mulher de queixo apoiado nos joelhos, os braços a envolverem as pernas, e a pensar que uma coisa tinha aprendido pelo menos com o Steve: o medo de amar. É que toda a ânsia com que ele queria legalizar a situação não podia ter outro nome. Medo, qualquer estúpida perceberia. Ou insegurança, se assim lhe quisessem chamar. Não é certamente por acaso que os americanos jet set andam todos com o retrato da matrona e da filharada na carteira ao lado dos cartões de crédito. E isso tanto pode significar insegurança como complexo de identidade ou ambos os males por atacado. Ou o Edipozinho a fazer das dele, já que o Edipozinho recalcado é tudo menos distraído e ataca sempre pelo verso e pelo reverso e pelo perverso principalmente.

Enfim, tudo tem o seu termo e a experiência com Steve Dorkin acabou como tinha de acabar. Quando ele lhe veio todo contente com a intimação do casamento, Alexandra nem pensou duas vezes: embora esfarrapada na alma, sabe Deus, pôs ponto final ao escrupuloso apaixonado. Como serpente da maçã Steve podia continuar a usá-la e a abusá-la, que para isso é que ela estava ali e por sinal com muito bom proveito. Usar e abusar. Como quisesse e à vontadinha. Agora lá Eva oficializada é que não. Eva com aliança e assinatura reconhecida, aí, Steve, paravam os Talmudes. O tipo, ainda batalhou, insistiu, mais empedernido do que a tábuas do Moisés, mas cada qual ficou na natureza que lhe era própria: ela, serpente e com muita honra, ele com a folha de parra pregada a rebites, o parvalhão. «Lixaste-te, mas foi melhor assim,» deve-o ter confortado depois o Jeová, mas se o confortou, Alexandra nunca teve confirmação porque não tornou a pôr-lhe a vista em cima.

Em Alexandra Alpha
José Cardoso Pires

Que eu tenha visto, mas posso-me enganar muito, Alexandra Alpha é um livro por traduzir. Em inglês, suponho. Surpreende-me que Cardoso Pires tenha sido pouco traduzido, ou foi? Interrogação em suspenso.

Interessante, a
técnica da citação em Cardoso Pires.

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