light gazing, ışığa bakmak

Thursday, March 13, 2008

os ricos

Em leituras pela Alexandra Alpha, vieram-me à cabeça os ricos. Somos um país ainda debaixo da asa de Salazar-igreja e do comunismo (glorificação do não-rico) e curiosamente esta dupla infernal modela-nos e condiciona-nos em sintonia. Os novos, felizmente, estão muito e muitas vezes livres desta equação. Sob outras, melhores ou piores venha o diabo, mas são outras, mais de acordo com o que corre hoje.

Há um sentimento geral de repulsa pela riqueza, que alguns ricos muitas vezes partilham: assumem-se como os maus da fita, exibem os seus sinais de poder e afirmam-se como estando daquele lado, para que enganos não haja. Só que esses ricos - e nós que não os somos - pegam em referências antigas (O Delfim) em que a riqueza era herdada, nascia-se já rico. Por outro lado, que maior satisfação para alguns ricos de hoje (os arcaístas, a geração dos avós) do que ser rico contrariando a herança? No contrariar a herança está a valentia do novo rico, que se fez a pulso, trabalhou para isso e singrou. Um duplo contentamento, pertence aos escolhidos e entrou lá por mão própria. Os não-ricos olham para o outro lado com inveja ou com desdém, de quem quer mas teve azar, ou de quem nem liga a nada disso. Para que queria eu um Porsche, nada senão um status que abomino. As under-currents dos desejos e a justificação de si próprio (alguém assume que é mau no trabalho que faz?).

Mas os ricos de hoje nada têm com os ricos de ontem, a maior parte obviamente. Ainda restam alguns delfins e algumas casas de brazão, algumas fortunas de família e conheço algumas. A percentagem é menor, até pela razão lógica de que esse grupo sempre foi pequeno no total da população. Os ricos de hoje, que não gostam que lhes chamem ricos por não se quererem ver dentro desse padrão Salazar-igreja / comunismo. Eles são quem fez o que queria mas com entrega, um luxo dos tempos que correm e do fim daquele contexto paternalista que os complexos de segregação - também racistas e sexistas - impunham. Uma qualquer pessoa hoje que seja excelente no que faz, por mais rocambolesca a escolha (veja-se o Chakall), acaba por ter a compensação material que antes vinha apenas por família ou por trabalho duro/sacrifício e disciplina. As moralidades do sacrifício e da disciplina estão consequentemente totalmente gastas e entender isso implica que se altere radicalmente o modo de educar e motivar os filhos que temos.

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