"With all memory and fate driven deep beneath the waves, Let me forget about today until tomorrow. Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me." (Mr. Tambourine Man, Bob Dylan)
Mentes Perigosas retrata a realidade de uma professora colocada num liceu cujos alunos são considerados problemáticos ("os rejeitados do inferno"). Baseado na história verídica de LouAnne Johnson, o filme veio a servir de modelo a outros filmes baseados na mesma premissa: os adolescentes de zonas difíceis, que têm de sobreviver na selva urbana, são tão dignos de atenção e tão capazes de ser recuperados como quaisquer outros. Vítimas, mais do que criminosos, a violência de que se rodeiam e de que são rodeados é apenas a sua defesa, mas também um perpetuar da sociedade em que são obrigados a viver.
Como em todos os filmes do género, a professora tem de alterar profundamente a sua estratégia para conseguir sequer comunicar com um grupo de miúdos que vêm de diferentes minorias e que a chamam "white bread" (pão branco). A mudança mais visível é a visual: a professora aproxima-se dos valores da turma, vestindo o "uniforme" que julga cativar ou pôr mais à vontade a sua "audiência". Ao diferente aspecto físico, segue-se uma auto-caracterização de "durona", ensinando karaté e usando calão, semelhante à linguagem dos alunos. Tendo conseguido captar a atenção dos seus alunos, a professora tenta então mostrar-lhes algo de novo, abrir portas através da poesia, aliás um pouco à semelhança de outro filme de referência neste género, O Clube dos Poetas Mortos. A poesia é primeiro introduzida na aula através da canção "Mr. Tambourine Man" de Bob Dylan. Depois, recorrendo à promessa de chocolates e bolos, a professora lança uma espécie de concurso: quem conseguir encontrar ecos de Bob Dylan em poemas de Dylan Thomas é recompensado. Muito como no cinema, mas neste caso concreto também na vida real, estes esforços são recompensados e, no final do filme, tudo acaba bem e os miúdos redimem-se perante a professora e perante o público pedindo-lhe que fique na escola.
Na situação actual em que muitas questões se levantam sobre a violência nas escolas, este filme tem o demérito de colocar toda a responsabilidade pela reabilitação dos alunos numa única professora. O sistema falha redondamente, as famílias são inexistentes ou apenas mais uma fonte de problemas do que a sua resolução, o ambiente da escola é pouco propício ao ensino, os problemas sociais que causam a disfuncionalidade dos alunos são simplesmente aceites como inevitáveis. Partindo destes pressupostos, aceita-se claramente a ideia de que não há solução para a criminalidade na idade escolar, nem sequer para a criminalidade que rodeia a escola. Ponto de vista que funciona no cinema, mas funciona muito mal na realidade onde os olhos deveriam cair nas origens do problema e não apenas na excepção. A resolução de problemas graves através da poesia, por muito que eu goste pessoalmente de poesia, também me deixa um amargo de boca.
Outro aspecto que tem sido apontado por críticos mais próximos da realidade social que o filme retrata é o desajuste e um certo paternalismo nas escolhas poéticas da professora: dois consagrados homens da palavra, o melhor bardo Bob Dylan e o melhor poeta, Dylan Thomas, mas também duas figuras que supostamente pouco têm a ver com o enquadramento social do filme. Nem um nem outro representam minorias. A meu ver, uma crítica desajustada e pouco lógica (pela mesma ordem de ideias, apenas pintores marginais teriam lugar nas aulas de pintura de escolas de bairros problemáticos).
À parte as críticas mais ou menos pertinentes, e à parte o sucesso ou insucesso do filme, dos actores e do seu argumento, eu retiraria (aproveitaria) aquilo que é melhor no filme e que, ao mesmo tempo, lhe é completamente alheio: a letra de Bob Dylan e o poema de Dylan Thomas. A comparação de ambos, isto sim, vale pelo filme inteiro.
Do not go gentle into that good night
Dylan Thomas
Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.
Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.
Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.
Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.
Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.
And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.
Let Me Die in My Footsteps
Bob Dylan
I will not go down under the ground
‘Cause somebody tells me that death’s comin’ ‘round
An’ I will not carry myself down to die
When I go to my grave my head will be high,
Let me die in my footsteps
Before I go down under the ground.
There’s been rumors of war and wars that have been
The meaning of the life has been lost in the wind
And some people thinkin’ that the end is close by
"Stead of learnin’ to live they are learning to die.
Let me die in my footsteps
Before I go down under the ground.
I don’t know if I’m smart but I think I can see
When someone is pullin’ the wool over me
And if this war comes and death’s all around
Let me die on this land ‘fore I die underground.
Let me die in my footsteps
Before I go down under the ground.
There’s always been people that have to cause fear
They’ve been talking of the war now for many long years
I have read all their statements and I’ve not said a word
But now Lawd God, let my poor voice be heard.
Let me die in my footsteps
Before I go down under the ground.
If I had rubies and riches and crowns
I’d buy the whole world and change things around
I’d throw all the guns and the tanks in the sea
For they are mistakes of a past history.
Let me die in my footsteps
Before I go down under the ground.
Let me drink from the waters where the mountain streams flood
Let me smell of wildflowers flow free through my blood
Let me sleep in your meadows with the green grassy leaves
Let me walk down the highway with my brother in peace.
Let me die in my footsteps
Before I go down under the ground.
Go out in your country where the land meets the sun
See the craters and the canyons where the waterfalls run
Nevada, New Mexico, Arizona, Idaho
Let every state in this union seep in your souls.
And you’ll die in your footsteps
Before you go down under the ground.
light gazing, ışığa bakmak
Wednesday, March 26, 2008
mentes perigosas
Publicado por Ana V. às 10:15 PM
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5 comments:
Estou-me a "apagar". Este comparativo foi o epílogo.
Amanhã espero uma receita para experimentar no fim-de-semana.
Fading away to lamb countdown.
:-O
(isto está mesmo mal- tive que corrigir 2 vezes!!!)
Boa noite e beijinhos e abraço
Eu também! E amanhã é certinha a sugestão... beijo e dorme bem.
já não me lembro bem do filme. sei k vi e achei interessante sem ser nada de especial. gostei da música. as críticas feitas, acho-as pertinentes. e não acho adequado para os meus alunos de 8º ano, miúdos irrequietos mas nada a ver com os jovens retratados no filme.
Vi este filme no meu sexto ano. E marcou-me. Uma professora das "como deve ser" mostrou-nos este filme e também o "O clube dos poetas mortos".
Fez muito por mim, apesar de eu não fazer parte de todo de uma turma problemática ou com problemas sociais. Mas, mesmo no meu mundo, em que muitas vezes me sentia tão diferente do rebanho, este filme mostrou-me que posso sempre ser senhora do caminho que escolho. E sinceramente, considero-a uma premissa tão válida para os adolescentes de hoje, como foi para mim há 10 anos.
Beijos
Espiral
eu vi este filme numa aula de filosofia... achei o filme bastante interessante... apesar de nao ser o sitio indicado de apreciar tal filme! Apesar de nunca ter vivido uma situação como a retratada no filme conheço a realidade e as dificuldades que os professores passam para tentarem cativar e motivar estes alunos... mas quando cativados podem também ser excelentes alunos, como quaiquer outros!
mas acho, sinceramente, que este tipo de filmes são muito importantes para as pessoas que estao à parte destas realidades perceberem que não é tao facil como se pensa, e verem, também, o que as rodeia...!
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