Foi no fim-de-semana passado que decorreu em Coimbra a 15ª edição do festival Caminhos do Cinema Português. Entrada gratuita, nenhum dos filmes era demasiado longo, chuvinha... um convite quase irrecusável para entrar no Teatro Académico Gil Vicente, onde estavam já umas vinte, trinta pessoas. Consegui apenas ver o final de "Antes de Amanhã", de Gonçalo Galvão Teles. Deste brevíssimo encontro, posso dizer que gostei da imagem da coluna militar ("é tudo proibido neste país").
Seguiu-se "China, China", de João Pedro Rodrigues e de João Rui Guerra da Mata, uma curta-metragem de 20 minutos. Apoiando este filme estava uma equipa extensa, nomes conhecidos, e os subsídios da RTP, da Câmara de Lisboa, do Ministério da Cultura. Eu diria que o filme foi feito com os apoios necessários. Do que gostei: da ideia de uma imigrante chinesa em Lisboa, das imagens do Martim Moniz, do cenário do apartamento (importante excepção: o terrível galo de Barcelos a destruir a caracterização que teria sido perfeita otherwise), da actriz principal e da situação, uma miúda ainda adolescente, casada, um filho, patroa de uma loja chinesa e enormes desejos de evasão. O que não gostei: de quase tudo o resto. Ficou-me a impressão que uma boa ideia foi esboroada algures - o final da história foi particularmente mau e espectável, a "lisboeta" que surge nas escadas (totalmente dispensável), da lentidão quase parada de certas cenas. Do que gostei muito; da música dos Pop dell'Arte. Voltar ao corte e costura de cenas, especialmente as do início em que nada se passa, mudar radicalmente a forma de apresentar os créditos, retirar inutilidades e alterar o final... Este filme ganhou uma Menção Honrosa "pela originalidade do argumento, pela excelente direcção de actores e pelos riscos assumidos e capacidade de nos provocar sensações tão contraditórias."
Finalmente, tive o desgosto de assistir a "Mulheres Traídas, The Making of" de Miguel Marques. Este documentário sobre a "realizadora" Maria José Silva é certamente das piores coisas que já vi num ecrã, não me lembro de ter visto nada tão mau. Se os filmes de Maria José já são indescritíveis, com lugar talvez apenas no Crime ou em página interior do Correio da Manhã, a ideia de fazer um making of de algo tão mau escapa às explicações mais devaneantes. Todo o universo pimba e de má qualidade poderia ser alvo de trabalho documentário. Mas para quê? Li que "Este documentário pode também ser visto como uma reflexão preocupada sobre as limitações das fantasias amorosas, eróticas e afectivas dentro da cultura (popular) portuguesa." Será que uma preocupação ou curiosidade sociológica justifica uma película de cinquenta minutos? Não consigo explicar o interesse de permanecer cinquenta longos minutos constatando que a "cultura portuguesa" ou a "sociedade portuguesa" podem ser tão desinteressantes e pobres. Não dignifica a chamada realizadora, que faz muito para além de vender o seu queijo na capital do Norte, nem dignifica a tal sociedade. Muitos outros aspectos existem, inerentes à falta de educação formal e cultural, que seriam bem mais interessantes e sérios para abordar. Mas que interesse tenho eu, espectador, em ser testemunha da minha pretensa superioridade intelectual? Triste, triste, foi para mim o facto de este Making Of ter ganho o prémio de melhor documentário "pela originalidade do desafio e por nos ter proporcionado momentos tão surpreendentes e divertidos." Pior ainda foi o facto de ter estreado na Culturgest, em Lisboa. Devemos andar todos loucos.
O site do festival: http://www.caminhos.info/
light gazing, ışığa bakmak
Monday, May 26, 2008
Caminhos do Cinema Português, em Coimbra
Publicado por Ana V. às 3:49 PM
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1 comment:
Eu presenciei a maioria das cessões do festival de cinema de Coimbra, incluindo a cessão que referes e posso-te garantir que foi uma das melhores ;)
Relativamente ao China China globalmente agradou-me. O movimento e planos de câmara estão mt fixes. A história é original e tem referências várias a outras histórias, como por exemplo o Feiticeiro de Ooz... Há!Tb apreciei as cenas do filme A Better Thomorow de Jhon Woo que passaram na TV (sou apreciador da direção do Sr. :P). Sem grandes teorizações: Gostei!
Bem agora em relação ao documentário Mulheres traidas de Miguel Marques ^_^ Bem, não há duvida que me fez rir hehe ...presumo que fosse esse o objectivo e que fosse propositado.
Temos de analizar bem isto, pq a Sra. Realizadora, sobre a qual era o documentário, escreveu e FEZ realmente várias dezenas de filmes durante a sua vida, sem o apoio financeiro de ninguém e apenas pelo gosto de os fazer.
Dou-lhe infinitamente mais valor que a todos aqueles realizadores que têm apoios do Ica, rtp e mais sei lá o quê, para muitas das vezes fazerem apenas mais do mesmo. Alem disso a Sra. escreve da sua alma, descrevendo o seu mundo e a sua interpretação dele e do que a rodeia... o que é igualmente admirável.
Aqueles que só se preocupam em fazer dinheiro, vão fazer histórias estudadas para agradar ao maior número de pessoas possivel, esta senhora faz as histórias para agradar a ela própria... notável! Sem duvida que merecia esta homenagem (sim, acredito mesmo que é uma homenagem :P)
Agora em termos da realização do documentário... acho que o realizador fez um excelente trabalho a mostrar o mundo da Sra :)O que, tendo em conta o género de produções dela, não é de todo fácil de conseguir. Ele agarrarou naquilo tudo e consegui mostrar apenas o mundo daqueles tão peculiares cineastas, sem embelezamentos ou rebaixamentos e mesmo assim de forma a enterter o Publico.
É um documentário que vou reter para sempre na minha memória, coisa que não me acontece a ver por ex. os documentários do National Geographic ^_^
O Antes de Amanhã... não aquece nem arrefece, para mim foi o menos interessante de todos eles.
^_^
Isto é só a minha opinião ;).
Não estou a dizer que sou eu que estou certo, OK :P
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