light gazing, ışığa bakmak

Tuesday, May 27, 2008

Jean-Pierre Bemba em Lisboa (2)

Aqui há um ano escrevi sobre Jean-Pierre Bemba e o facto de um assassino que cometeu crimes contra a humanidade se ter refugiado na Quinta do Lago, condomínio de luxo, no Algarve. Pareceu-me então escandaloso que tendo de abandonar o seu país por ter perdido as eleições para um seu rival, Bemba, criminoso com processo no Tribunal dos Direitos do Homem, que mantinha a liberdade por uma suposta "negociação de paz, tenha recebido um seja-bem-vindo das autoridades portuguesas. À luz do que se passou recentemente, posso tirar algumas conclusões interessantes sobre política internacional. A primeira é que Portugal tem muito pouco a dizer sobre este caso ou sobre qualquer outro. Os países alteram o seu modo de proceder apenas quando há levantamentos populares alargados e a vinda de Bemba passou quase despercebida; ninguém se ralou que ele estivesse aqui ou me qualquer outro lugar. Os jornalistas e os meios de comunidação social foram parcos, as notícias curtas: será isto concertado? Penso que na altura o nosso Ministro não teve outra opção: Portugal foi uma solução para Bemba encontrada pelas organizações internacionais, que teve o apoio de todas elas, nomeadamente das Nações Unidas e do próprio interessado. Por este motivo pode agora o Ministro dizer que Bemba veio a pedido das Nações Unidas, facto que há um ano atrás não foi divulgado.

Depois de um ano de reagrupamento de tropas e de alianças, pois tudo leva a crer que Bemba tenha estado a organizar o grupo com que pretendia agora regressar ao Congo e retomar o poder, eis que o líder criminoso é preso em Bruxelas, precisamente na altura em que regressa ao seu país. Que operação "limpa" para Portugal, que não teve nada a ver com nada. Se Bemba cá esteve foi a pedido das Nações Unidas, se Bemba foi preso, foi em Bruxelas. Será que para ser Ministro é necessário perder a consciência? (esta era uma pergunta retórica) Para ser governante deste grande esquema das coisas é preciso perder a consciência, chama-se diplomacia. Saimo-nos bem, afinal facilitámos a prisão de Bemba e demos-lhe guarida garantindo a paz no seu país (ele encontraria protecção em qualquer lado, não fosse aqui seria noutro lado). Mas não posso deixar de tremer pela enormidade escandalosa que é o facto de um criminoso acusado de crimes contra a humanidade (comprovados e horrendos, basta fazer uma pequena pesquisa) ter residido calmamente (era um vizinho simpático e resguardado!) no nosso país, num aldeamento de luxo.

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