(foto de César Dias, daqui)
14 de Março de 1967
"Portaria n.º 22569
Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro da Marinha, declarar que o navio Uíge, da Companhia Colonial de Navegação, é afretado pelo Ministério do Exército, a partir de 6 de Abril de 1967, para transporte de tropas e material de guerra."
Enquanto o navio tiver capitão-de-bandeira só poderá ser utilizado em serviço do Estado, e não comercial. Nestas condições, tem direito ao uso de bandeira e flâmula e goza das imunidades inerentes aos navios públicos."
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"Lisboa>Rocha Conde d'Óbidos
30-07-1966 -
Depois de uma noite de viagem do Porto para Lisboa, enfim, chegou-se ao Cais da
Rocha Conde d' Óbidos, onde se cumpriram as formalidades de formatura e respectivo desfile das Forças, perante as "Altas Patentes Militares" em representação do respectivo Ministério.
Entretanto apareceram as Meninas do MNF-Movimento Nacional Feminino, que distribuíram um maço de tabaco a cada militar, no âmbito da sua acção psico-social e para consolo dos infortunados que estavam prestes a partir. Antes do embarque, todos militares lá cumpriram o ritual doloroso de despedida dos familiares, ali presentes, com os habituais abraços, beijos e respectivo choro à mistura com gritos e acenos.
Após este ritual, a rapaziada lá foi embarcando no Navio "Hotel" Uíge, para mais um cruzeiro até à Guiné, transportando todos os "soldados" à molhada, sem qualquer escala nos habituais portos turísticos, do Funchal, Agadir em Marrocos, Tenerife, nas Canárias ou Dakar no Senegal.
O preço da viagem apenas incluía a ida até Bissau, para aí ancorar no estuário do rio Geba, em frente ao Ilhéu do Rei e depois seguirem os seus destinos para as estâncias balneares no mato, na medida em que, os velhinhos queriam regressar no gósse-gósse para a Metrópole.
GUINÉ
04-08-1966 -
Chegada à Guiné, viagem de Bissau para Farim.
05-08-1966 - O Navio Uíge, ficou ancorado no meio do estuário do Rio Geba após a sua chegada a Bissau e às 7H00 efectuaram o desembarque directamente do “Uige” a CCaç 1585, conjuntamente com o Pel Rec Daimler 1134 para bordo da LDG 104 "Montante", que os iria conduzir até à Vila de Farim.
De madrugada o Uíge estava ancorado frente a Bissau, preparámo-nos para a transferência, para
uma barcaça de desembarque. À saída do Uíge, com os cumprimentos do Imediato, recebi embrulhada num guardanapo de papel, uma sandwiche e uma peça de fruta, era a merenda para o caminho.
Simpático. Convenci-me que seria rápida a viagem ali para os lados do Ilhéu de Rei. A geringonça andava ronceira, devagar e as horas iam passando também devagar.
Já no rio Cacheu a hora de almoço passava e nada. Fui ter com o Oficial que comandava o barco a LDG 104 "Montante". Almoçava no convés dentro dos conformes, toalha e guardanapo de pano bem passados a ferro. Talheres ou de alpaca ou mesmo de prata. Serviço de porcelana simples, com o nome da embarcação a azul, bonito.
Um grumete com casaco branco, guardanapo pendurado no pulso servia à mesa. O senhor, na marinha tratavam-se todos por senhor, nem se levantou, olhou para mim e disse-me que não tinha nada a ver com isso, o exército deveria ter providenciado. Estranhei o comportamento, ele
era Comandante do barco e eu era Comandante do Pelotão de Cavalaria e em Cavalaria havia educação e gentileza no trato, apesar da dureza. Tentámos com o meu pessoal ver o que ia no barco, falámos com os marinheiros, pouco adiantou.
Disse para o pessoal: desenrasquem-se, não temos outra solução e assim foi, safámo-nos,
passando alguma fome, comendo um ovo cozido e 1 laranja."
da Guerra da Guiné, por Carlos Silva.
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01/02/1967 -
Navio Uíge - Oceano Atlântico
São dezasseis horas e cinquenta minutos, do dia 1 de Fevereiro do ano de mil novecentos e sessenta e sete. Já só se avistam águas, além deste navio - o Uíge.
Estas são as primeiras letras que me saiem dos dedos após o embarque, no cais da Rocha Conde de Óbidos. Depois de um almoço que me deixou estupendamente satisfeito, foi um banho juntamente com um pequeno descanso que bem precisava; visto que quando embarquei trazia fortes dores de cabeça e mau estar, em virtude da falta de descanso antes da partida.
02/02/1967
Navio Uíge
Encontro-me já bastante melhor. A comida desde o princípio está a ser óptima, com vinho e fruta em abundância e sobretudo com o máximo de asseio e muita cordialidade por parte dos tripulantes. Houve a primeira formatura, para instruções acerca de qualquer acidente no navio. Tomámos os dois primeiros comprimidos - que vão ser semanais - contra o paludismo.
03/02/1967
Navio Uíge
Nos dias anteriores, só se tem navegado em águas bastante agitadas, o que fazia o navio dar enormes balanços, apesar de eu vir instalado em camarotes, enquanto os soldados vêm nos porões, em camas de madeira, que mais parecem caixotes.
Sendo portanto neste dia a ocasião em que o navio dá menos balanços, pois atravessamos mar calmo, como, ainda não se tinha visto. Já se está também a sentir calor.
04 e 05/02/1967
Navio Uíge
A vida aqui dentro torna-se bastante monótona!
Há imensas saudades de terra, pois além de água, só se tem avistado alguns navios, assim como a enorme quantidade de peixes-voadores, que passam a arrasar por cima das nossas cabeças dum lado ao outro do navio. O meu pensamento é chegar à Guiné, pois isto já me está a enfadar.
Escrevi hoje uma carta dirigida a familiares e amigos, a dar as despedidas, e saudá-los pela primeira vez.
Porém só a poderei enviar de Bissau.
Quando parti de casa, com a mochila às costas e uma mala vermelha com as minhas coisas, deslocando-me a pé para o comboio que me levaria a Lisboa, e ao passar o pinhal, donde ainda avistava o meu lugar onde cresci, olhei para trás e despedi-me do meu povoado, dizendo para comigo: até breve!
Estas foram as despedidas possíveis, pois não tive coragem de dizer absolutamente nada a ninguém antes de partir. Quis sofrer sozinho: por não saber explicar o que vinha fazer, para onde, e porquê?
Espero apagar a solidão, descrevendo o meu dia a dia, enquanto Deus me der forças e saúde para tal.
06/02/1967
Navio Uíge / Bissau
Poucas habitações, muitas árvores, dois cais marítimos; foi o que avistei pelas dez horas. Era a capital da Guiné! Seriam talvez três da madrugada quando navegámos águas Guineenses...
Depois, um pequeno ilhéu, tendo ao centro um obelisco, e finalmente, atracámos. Ficando ao meio do rio Geba, tendo dum lado: a ilha do Rei; e do outro: Bissau.
Por volta, das quatro da tarde, abalou o navio "Alfredo da Silva", que já estava atracado quando chegámos.
Durante o dia fez muito calor. Agora perto da noite, sente-se o tempo mais fresco, e com mostras, de nevoeiro. São seis horas da tarde e parece que vamos cá ficar esta noite. Tivemos o primeiro contacto com nativos em terras Africanas, por ora, simples empregados de barcos que transportam a carga do rio para fora; a meu ver, pobres diabos "mal vestidos" que só nos pedem coisas, entre elas - dinheiro de Lisboa.
Entre o Paraíso e o Inferno, de Abel de Jesus Rei
"Chegados ao Cais da Rocha de Conde de óbidos, procedeu-se à instalação do pessoal e da bagagem no Navio/Motor UíGE da C.N.N., que, fretaso, recebia mais um contingente destinado ao Ultramar. Surgiu então a hora de destroçar. O último abraço de despedida aos familiares e amigos que os haviam acompanhado naqueles últimos passos. O último adeus à Terra que lhes dera o ser, na hora da partida para as terras inóspitas do Além . Voltariam? Talvez? E antevia-se já o dia em que os movimentos seriam diametralmente opostos.
Pelas 10.00H deu-se início à formatura geral das tropas a embarcar. Uma palavra de conforto acompanhada de pequenas lembranças de elementos do Movimento Nacional Feminino, uma rápida revista, uma breve alocução proferida por um representante do Ministério do Exército e finalmente um desfile pleno de garbosidade que terminou com o embarque.
Eram exactamente 12.00H do dia 20 de Janeiro de 1966, quando no Cais, a Banda Militar começou os primeiros acordes do Hino Nacional. E 12.05H quando o Navio/Motor começou a deslizar, afastando-se do Cais. Lenços que se agitavam freneticamente por sobre uma imensidão de gente, gritos de adeus e emoções que sibilavam pelos ares chegando aos ouvidos dos embarcados e ainda cartazes afirmando a presença de diversas localidades no futuro dos que partiam.
E o UíGE afastou-se até os perder de vista. Rumo? Bissau, Guiné Portuguesa!
Seguiam nesta viagem além da tripulação e entidades habituais, o B.CAç. 1876, Cª. Caçadores nº 1501 do B.CAÇ. 1877 e C.ARTª. 1525 e 1526, independentes, um PEL.MORT., um PEL. A.A.A. e ainda alguns elementos isolados perfazendo um total de 50 Oficiais, 154 Sargentos e 1243 Praças.
Dos dias passados no alto mar pouco há a salientar.
Nos primeiros dias fez-se sentir a falta de prática nestas andanças marítimas pois logo após o primeiro baloiçar houve a revolta quase geral dos estômagos em sinal de protesto. E depara-se então com o espectáculo dantesco dos militares deitados em qualquer recanto e o barco a revelar o resultado das indisposições. A compreensão dos tripulantes e sobretudo daqueles que mais sofreram as consequências pelo trabalho que isso lhes acarretou, foi o melhor lenitivo para o abatimento que pairava sobre o ambiente.
Finalmente os dias foram correndo e tudo normalizou permitindo uma distracção mais pura e mais viva. Uma curiosidade um tanto pitoresca, veio alertar os espíritos. Com prévio aviso das atitudes a tomar, repentinamente o tilintar contínuo das campainhas espalhadas por todos os corredores, salas, quartos e demais divisões, provocaram uma aceleração em todo o navio. Gente correndo de um lado para o outro com coletes ou cintos de salvação em amarelo-torrado e passados alguns instantes a concentração geral junto das baleeiras. Tratava-se de um exercício de salvamento, repetido algumas vezes, até ser efectuado dentro das condições desejadas e tempo determinado.
No Domingo, dia 23, o Rev. Capelão Padre Pinheiro, organizou uma sessão de variedades conforme as possibilidades de que dispunha e que decorreu com bastante animação alcançando as finalidades que notaram a sua preparação.
Ainda dentro do plano de distracções é grato recordar a projecção de alguns filmes.
E no dia 24, o jantar de despedida, oferecido pela tripulação e abrangendo todo o pessoal embarcado que atingiu as raias da alegria e fez esquecer por momentos o choque de emoção que se sentiria horas depois quando se tivesse de enfrentar novas terras e novas gentes.
A viagem estava prestes a terminar. Não tendo feito escala em parte alguma, pelo contrário, seguindo uma rota sempre afastada de qualquer costa, na manhã do dia 25 começou a aproximar-se de terras guineenses. Algumas patrulhas aproximavam-se e logo se afastavam. A visão de novas paisagens e de novas gentes veio de algum modo consolidar ou rectificar a imagem que se havia formado.
Cerca das 15.00H o UíGE fundeou frente a Bissau . Entidades militares que entravam e saíam vieram dar as boas vindas e preparar o desembarque. Mas este só começaria no dia 26, pelas 10.30H, através da barcaça BOR , para a ponte cais e daqui, em viaturas, para Santa Luzia, onde a Companhia se instalou.
"Também embarquei no Uíge em 23 Set 1970.
Éramos para aí 500 ou 600 homens. Os soldados (maioria) iam instalados de forma desumana, em péssimas condições nos beliches em porões de carga.
O embarque no cais Rocha de Conde de Óbidos, foi DANTESCO!!!
Milhares de pessoas (familiares e amigos) gritavam e choravam!
Nunca esquecerei esse dia! É a pior recordação que tenho gravada (para sempre) na minha memória!"
Fernando Leal
DIVERTIMENTOS NO UÍGE
Os responsáveis pelo transporte dos militares tinha algumas preocupações em entreter aqueles milhares de jovens, para que não houvesse grandes problemas a bordo.
À tarde havia, no convés, alguns passatempos. Recordo-me das corridas de cavalos onde se apostava num de seis cavalos assinalados com números e que iam avançando casas num grande tabuleiro conforme saiam os dados.
Outras vezes faziam-se simulações de salvamento no caso de um eventual acidente.
Mas os operadores de cripto, divididos por dois camarotes, tinham outras hipótese e reuniam-se num deles a jogar às cartas e havia um pormenor engraçado. Jogava-se a dinheiro, mas só se perdia. Ninguém ganhava.
A história é simples de contar.
Os valores em jogo eram pequenos e quem perdia pagava e o acumulado era utilizado para comprar cerveja para acompanhar os petiscos que fazíamos com o que cada um levava na bagagem. Uns presuntos, umas conservas ou uns queijos, serviam de lanche entre as refeições servidas nos refeitórios do navio.
Quem ganhava nada pagava.
texto de Jorge Santos, daqui.
Transportava-mos militares de Lisboa a Guiné ou para Angola e vice- versa, nesta data creio termos transportado ainda, militares mais uma ou duas vezes pese embora se tenha dado 0 25 de Abril, a independência só aconteceu em Novembro no ano de 1975.
Era um navio misto, ou seja podia transportar carga e passageiros, com mais ou menos 145 metros, tendo sido construído na Bélgica em 1954, dispunha de um motor Diesel de 8 cilindros com uma potência de 6850 cavalos.
Tinha acomodações para 571 passageiros e a tripulação era composta de 139 pessoas.
Mas!....no transporte de militares, eu nem sei dizer-vos a quantidade, pois iam por todo lado como se costuma dizer (sardinha em lata) e hoje a relembrar essa vivência, posso dizer que as condições eram péssimas que nem quero descrever.
E lá voltei eu a Angola mais concretamente ao Porto de Luanda desta feita transportando militares, no regresso vinha o navio cheio novamente e após alguns dias chegava-mos a Lisboa aonde éramos aguardados por um mar de gente, familiares e amigos daqueles militares.
Era uma cena que me passava muita emoção ao ver toda aquela gente aos abraços no meio de risos e choros.
Fiz algumas viagens mais até se trazerem os últimos militares assim como civis, de regresso a Lisboa, também neste espaço de tempo fomos a Moçambique para trazer militares tendo o navio ancorado em Lourenço Marques indo mais tarde ao Porto de Nacala aqui sim embarcando os últimos militares pois que a independência seria no dia 25 de Junho de1975."
do blogue de José Castro
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Na tarde do dia 10 de Novembro de 1975, a bandeira portuguesa foi pela última vez arreada no Palácio do Governo e na fortaleza, dobrada e redobrada. O alto-comissário, almirante Leonel Cardoso, ao qual coube a ingrata tarefa, proclamara horas antes a independência de Angola. Quatrocentos e noventa e dois anos depois das naus portuguesas ali terem largado ferros, o último representante da soberania portuguesa abandonava a jóia do ex-Império, e partia, "sem cerimonial, mas de cara levantada", rumo à base naval da ilha de Luanda.
Ao largo, na baía já abandonada por barcos carregados até à borda de multidões e contentores, a fragata "Roberto Ivens" escoltava o "Uíge" e o "Niassa", com as máquinas prontas para, pela última vez, zarparem para Lisboa. Uma semana antes, a cidade branca acabara de esvaziar-se. A ponte aérea, organizada com o apoio de países estrangeiros, retirara de Angola, no meio de indescritíveis cenas de pânico e confusão, quase meio milhão de portugueses."
daqui
Sala de Jantar 1ª Classe
Imagem de Manuel Albergaria de Santaclara
"Lisboa>Rocha Conde d'Óbidos
30-07-1966 -
Depois de uma noite de viagem do Porto para Lisboa, enfim, chegou-se ao Cais da
Rocha Conde d' Óbidos, onde se cumpriram as formalidades de formatura e respectivo desfile das Forças, perante as "Altas Patentes Militares" em representação do respectivo Ministério.
Entretanto apareceram as Meninas do MNF-Movimento Nacional Feminino, que distribuíram um maço de tabaco a cada militar, no âmbito da sua acção psico-social e para consolo dos infortunados que estavam prestes a partir. Antes do embarque, todos militares lá cumpriram o ritual doloroso de despedida dos familiares, ali presentes, com os habituais abraços, beijos e respectivo choro à mistura com gritos e acenos.
Após este ritual, a rapaziada lá foi embarcando no Navio "Hotel" Uíge, para mais um cruzeiro até à Guiné, transportando todos os "soldados" à molhada, sem qualquer escala nos habituais portos turísticos, do Funchal, Agadir em Marrocos, Tenerife, nas Canárias ou Dakar no Senegal.
O preço da viagem apenas incluía a ida até Bissau, para aí ancorar no estuário do rio Geba, em frente ao Ilhéu do Rei e depois seguirem os seus destinos para as estâncias balneares no mato, na medida em que, os velhinhos queriam regressar no gósse-gósse para a Metrópole.
GUINÉ
04-08-1966 -
Chegada à Guiné, viagem de Bissau para Farim.
05-08-1966 - O Navio Uíge, ficou ancorado no meio do estuário do Rio Geba após a sua chegada a Bissau e às 7H00 efectuaram o desembarque directamente do “Uige” a CCaç 1585, conjuntamente com o Pel Rec Daimler 1134 para bordo da LDG 104 "Montante", que os iria conduzir até à Vila de Farim.
De madrugada o Uíge estava ancorado frente a Bissau, preparámo-nos para a transferência, para
uma barcaça de desembarque. À saída do Uíge, com os cumprimentos do Imediato, recebi embrulhada num guardanapo de papel, uma sandwiche e uma peça de fruta, era a merenda para o caminho.
Simpático. Convenci-me que seria rápida a viagem ali para os lados do Ilhéu de Rei. A geringonça andava ronceira, devagar e as horas iam passando também devagar.
Já no rio Cacheu a hora de almoço passava e nada. Fui ter com o Oficial que comandava o barco a LDG 104 "Montante". Almoçava no convés dentro dos conformes, toalha e guardanapo de pano bem passados a ferro. Talheres ou de alpaca ou mesmo de prata. Serviço de porcelana simples, com o nome da embarcação a azul, bonito.
Um grumete com casaco branco, guardanapo pendurado no pulso servia à mesa. O senhor, na marinha tratavam-se todos por senhor, nem se levantou, olhou para mim e disse-me que não tinha nada a ver com isso, o exército deveria ter providenciado. Estranhei o comportamento, ele
era Comandante do barco e eu era Comandante do Pelotão de Cavalaria e em Cavalaria havia educação e gentileza no trato, apesar da dureza. Tentámos com o meu pessoal ver o que ia no barco, falámos com os marinheiros, pouco adiantou.
Disse para o pessoal: desenrasquem-se, não temos outra solução e assim foi, safámo-nos,
passando alguma fome, comendo um ovo cozido e 1 laranja."
da Guerra da Guiné, por Carlos Silva.
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01/02/1967 -
Navio Uíge - Oceano Atlântico
São dezasseis horas e cinquenta minutos, do dia 1 de Fevereiro do ano de mil novecentos e sessenta e sete. Já só se avistam águas, além deste navio - o Uíge.
Estas são as primeiras letras que me saiem dos dedos após o embarque, no cais da Rocha Conde de Óbidos. Depois de um almoço que me deixou estupendamente satisfeito, foi um banho juntamente com um pequeno descanso que bem precisava; visto que quando embarquei trazia fortes dores de cabeça e mau estar, em virtude da falta de descanso antes da partida.
02/02/1967
Navio Uíge
Encontro-me já bastante melhor. A comida desde o princípio está a ser óptima, com vinho e fruta em abundância e sobretudo com o máximo de asseio e muita cordialidade por parte dos tripulantes. Houve a primeira formatura, para instruções acerca de qualquer acidente no navio. Tomámos os dois primeiros comprimidos - que vão ser semanais - contra o paludismo.
03/02/1967
Navio Uíge
Nos dias anteriores, só se tem navegado em águas bastante agitadas, o que fazia o navio dar enormes balanços, apesar de eu vir instalado em camarotes, enquanto os soldados vêm nos porões, em camas de madeira, que mais parecem caixotes.
Sendo portanto neste dia a ocasião em que o navio dá menos balanços, pois atravessamos mar calmo, como, ainda não se tinha visto. Já se está também a sentir calor.
04 e 05/02/1967
Navio Uíge
A vida aqui dentro torna-se bastante monótona!
Há imensas saudades de terra, pois além de água, só se tem avistado alguns navios, assim como a enorme quantidade de peixes-voadores, que passam a arrasar por cima das nossas cabeças dum lado ao outro do navio. O meu pensamento é chegar à Guiné, pois isto já me está a enfadar.
Escrevi hoje uma carta dirigida a familiares e amigos, a dar as despedidas, e saudá-los pela primeira vez.
Porém só a poderei enviar de Bissau.
Quando parti de casa, com a mochila às costas e uma mala vermelha com as minhas coisas, deslocando-me a pé para o comboio que me levaria a Lisboa, e ao passar o pinhal, donde ainda avistava o meu lugar onde cresci, olhei para trás e despedi-me do meu povoado, dizendo para comigo: até breve!
Estas foram as despedidas possíveis, pois não tive coragem de dizer absolutamente nada a ninguém antes de partir. Quis sofrer sozinho: por não saber explicar o que vinha fazer, para onde, e porquê?
Espero apagar a solidão, descrevendo o meu dia a dia, enquanto Deus me der forças e saúde para tal.
06/02/1967
Navio Uíge / Bissau
Poucas habitações, muitas árvores, dois cais marítimos; foi o que avistei pelas dez horas. Era a capital da Guiné! Seriam talvez três da madrugada quando navegámos águas Guineenses...
Depois, um pequeno ilhéu, tendo ao centro um obelisco, e finalmente, atracámos. Ficando ao meio do rio Geba, tendo dum lado: a ilha do Rei; e do outro: Bissau.
Por volta, das quatro da tarde, abalou o navio "Alfredo da Silva", que já estava atracado quando chegámos.
Durante o dia fez muito calor. Agora perto da noite, sente-se o tempo mais fresco, e com mostras, de nevoeiro. São seis horas da tarde e parece que vamos cá ficar esta noite. Tivemos o primeiro contacto com nativos em terras Africanas, por ora, simples empregados de barcos que transportam a carga do rio para fora; a meu ver, pobres diabos "mal vestidos" que só nos pedem coisas, entre elas - dinheiro de Lisboa.
Entre o Paraíso e o Inferno, de Abel de Jesus Rei
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"Chegados ao Cais da Rocha de Conde de óbidos, procedeu-se à instalação do pessoal e da bagagem no Navio/Motor UíGE da C.N.N., que, fretaso, recebia mais um contingente destinado ao Ultramar. Surgiu então a hora de destroçar. O último abraço de despedida aos familiares e amigos que os haviam acompanhado naqueles últimos passos. O último adeus à Terra que lhes dera o ser, na hora da partida para as terras inóspitas do Além . Voltariam? Talvez? E antevia-se já o dia em que os movimentos seriam diametralmente opostos.
Pelas 10.00H deu-se início à formatura geral das tropas a embarcar. Uma palavra de conforto acompanhada de pequenas lembranças de elementos do Movimento Nacional Feminino, uma rápida revista, uma breve alocução proferida por um representante do Ministério do Exército e finalmente um desfile pleno de garbosidade que terminou com o embarque.
Eram exactamente 12.00H do dia 20 de Janeiro de 1966, quando no Cais, a Banda Militar começou os primeiros acordes do Hino Nacional. E 12.05H quando o Navio/Motor começou a deslizar, afastando-se do Cais. Lenços que se agitavam freneticamente por sobre uma imensidão de gente, gritos de adeus e emoções que sibilavam pelos ares chegando aos ouvidos dos embarcados e ainda cartazes afirmando a presença de diversas localidades no futuro dos que partiam.
E o UíGE afastou-se até os perder de vista. Rumo? Bissau, Guiné Portuguesa!
Seguiam nesta viagem além da tripulação e entidades habituais, o B.CAç. 1876, Cª. Caçadores nº 1501 do B.CAÇ. 1877 e C.ARTª. 1525 e 1526, independentes, um PEL.MORT., um PEL. A.A.A. e ainda alguns elementos isolados perfazendo um total de 50 Oficiais, 154 Sargentos e 1243 Praças.
Dos dias passados no alto mar pouco há a salientar.
Nos primeiros dias fez-se sentir a falta de prática nestas andanças marítimas pois logo após o primeiro baloiçar houve a revolta quase geral dos estômagos em sinal de protesto. E depara-se então com o espectáculo dantesco dos militares deitados em qualquer recanto e o barco a revelar o resultado das indisposições. A compreensão dos tripulantes e sobretudo daqueles que mais sofreram as consequências pelo trabalho que isso lhes acarretou, foi o melhor lenitivo para o abatimento que pairava sobre o ambiente.
Finalmente os dias foram correndo e tudo normalizou permitindo uma distracção mais pura e mais viva. Uma curiosidade um tanto pitoresca, veio alertar os espíritos. Com prévio aviso das atitudes a tomar, repentinamente o tilintar contínuo das campainhas espalhadas por todos os corredores, salas, quartos e demais divisões, provocaram uma aceleração em todo o navio. Gente correndo de um lado para o outro com coletes ou cintos de salvação em amarelo-torrado e passados alguns instantes a concentração geral junto das baleeiras. Tratava-se de um exercício de salvamento, repetido algumas vezes, até ser efectuado dentro das condições desejadas e tempo determinado.
No Domingo, dia 23, o Rev. Capelão Padre Pinheiro, organizou uma sessão de variedades conforme as possibilidades de que dispunha e que decorreu com bastante animação alcançando as finalidades que notaram a sua preparação.
Ainda dentro do plano de distracções é grato recordar a projecção de alguns filmes.
E no dia 24, o jantar de despedida, oferecido pela tripulação e abrangendo todo o pessoal embarcado que atingiu as raias da alegria e fez esquecer por momentos o choque de emoção que se sentiria horas depois quando se tivesse de enfrentar novas terras e novas gentes.
A viagem estava prestes a terminar. Não tendo feito escala em parte alguma, pelo contrário, seguindo uma rota sempre afastada de qualquer costa, na manhã do dia 25 começou a aproximar-se de terras guineenses. Algumas patrulhas aproximavam-se e logo se afastavam. A visão de novas paisagens e de novas gentes veio de algum modo consolidar ou rectificar a imagem que se havia formado.
Cerca das 15.00H o UíGE fundeou frente a Bissau . Entidades militares que entravam e saíam vieram dar as boas vindas e preparar o desembarque. Mas este só começaria no dia 26, pelas 10.30H, através da barcaça BOR , para a ponte cais e daqui, em viaturas, para Santa Luzia, onde a Companhia se instalou.
do Historial da Companhia de Artilharia nº 1525
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"Também embarquei no Uíge em 23 Set 1970.
Éramos para aí 500 ou 600 homens. Os soldados (maioria) iam instalados de forma desumana, em péssimas condições nos beliches em porões de carga.
O embarque no cais Rocha de Conde de Óbidos, foi DANTESCO!!!
Milhares de pessoas (familiares e amigos) gritavam e choravam!
Nunca esquecerei esse dia! É a pior recordação que tenho gravada (para sempre) na minha memória!"
Fernando Leal
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DIVERTIMENTOS NO UÍGE
Os responsáveis pelo transporte dos militares tinha algumas preocupações em entreter aqueles milhares de jovens, para que não houvesse grandes problemas a bordo.
À tarde havia, no convés, alguns passatempos. Recordo-me das corridas de cavalos onde se apostava num de seis cavalos assinalados com números e que iam avançando casas num grande tabuleiro conforme saiam os dados.
Outras vezes faziam-se simulações de salvamento no caso de um eventual acidente.
Mas os operadores de cripto, divididos por dois camarotes, tinham outras hipótese e reuniam-se num deles a jogar às cartas e havia um pormenor engraçado. Jogava-se a dinheiro, mas só se perdia. Ninguém ganhava.
A história é simples de contar.
Os valores em jogo eram pequenos e quem perdia pagava e o acumulado era utilizado para comprar cerveja para acompanhar os petiscos que fazíamos com o que cada um levava na bagagem. Uns presuntos, umas conservas ou uns queijos, serviam de lanche entre as refeições servidas nos refeitórios do navio.
Quem ganhava nada pagava.
texto de Jorge Santos, daqui.
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"Ainda hoje não sei porque tive direito a um camarote, mas a maioria ia num porão, muito escuro, sem ar, tudo vomitado, efeitos da viagem, as camas eram umas tábuas onde só era possível deitar - deitado (difícil) a palha toda moída, fiquei doente só de ver. E vi porque um amigo de Manteigas preferia dormir ao relento, o que despertou a minha curiosidade. Nem aos ratos desejei tal habitação."
"Ainda hoje não sei porque tive direito a um camarote, mas a maioria ia num porão, muito escuro, sem ar, tudo vomitado, efeitos da viagem, as camas eram umas tábuas onde só era possível deitar - deitado (difícil) a palha toda moída, fiquei doente só de ver. E vi porque um amigo de Manteigas preferia dormir ao relento, o que despertou a minha curiosidade. Nem aos ratos desejei tal habitação."
José Mendes Gouveia
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Bambadinca, 18 de Janeiro de 1967
Aqui, à beira do rio Geba, para embarcarmos logo à noite em batelões para Bissau. Amanhã tomamos o Uíge para Lisboa. Assim sem espingardas nem pistolas, parece que ficámos subitamente indefesos e nus. E temos medo. Sobretudo que nos ataquem das margens durante esta noite de viagem por aí abaixo, até Pijiguiti. Não seria a primeira vez. A escolta que vai connosco não daria para as encomendas. Nunca mais acaba o pesadelo, sofremos até à última gota.
Bissau, a bordo do Uíge, 19 de Janeiro de 1967
Veio o Governador a bordo despedir-se das tropas e agradecer-nos, em nome da Pátria, o nosso esforço, sacrifício e abnegação. Seja tudo por alma da Pátria!, disse-me nos meus fundos. Garantiu-nos no final da derradeira golada de uísque que, em matéria de guerra, deixávamos este rincão pátrio melhor do que o havíamos encontrado à chegada. Mentiu com todos os dentes! A guerrilha alastra-se cada vez mais. O Capitão da minha Companhia ficou em terra. Ainda não completou o tempo de comissão e vai compensá-lo numa repartição qualquer. Nem fiquei triste nem contente, que, com esta magreza, se me esvaíram quase todos os sentimentos. Trouxe comigo o perdigueiro. Não houve qualquer problema na sua admissão a bordo. O Vila Velha, o meu guarda-costas, prontificou-se a tratar dele durante a viagem.
Lisboa, 27 de Janeiro de 1967
Não dormi isto sequer, com a ansiedade da chegada. Navega agora o navio Tejo adentro. Ainda é noite. Está frio lá fora e outro ainda mais gelado cá dentro em mim. Encontro-me no deck, enrolado num cobertor, à laia de capa de estudante de Coimbra que ainda sou. Vejo a ponte nova, Salazar chamada, e ao longe as luzes da cidade. Não me encantam nem me chamam. Ando de um lado para o outro e penso na vida e no futuro. E olho indiferente as luzes que se espelham, tremeluzindo, nas águas do rio. Serei capaz de vencer e de me vencer? Vou ter o meu filho no cais à minha espera. Com dois meses apenas. E talvez seja bom assim. Se tivesse entendimento, veria o pai já cansado e envelhecido e dardejando chispas de medo dos olhos fundos. Na flor da idade. Não minto. Vi-me no espelho quando me escanhoava pela última vez. Última, sim. É que daqui em diante vou deixar crescer a barba. Não foi promessa. Foi uma jura. E cada um tem direito à sua pancada. Mas sei as razões desta minha atitude, que, como todo o neurasténico que se preza, tenho explicação para tudo quanto me aconteceu ou porventura venha a acontecer-me. Um dia hei-de contar!
texto de Cristóvão de Aguiar
daqui
Bambadinca, 18 de Janeiro de 1967
Aqui, à beira do rio Geba, para embarcarmos logo à noite em batelões para Bissau. Amanhã tomamos o Uíge para Lisboa. Assim sem espingardas nem pistolas, parece que ficámos subitamente indefesos e nus. E temos medo. Sobretudo que nos ataquem das margens durante esta noite de viagem por aí abaixo, até Pijiguiti. Não seria a primeira vez. A escolta que vai connosco não daria para as encomendas. Nunca mais acaba o pesadelo, sofremos até à última gota.
Bissau, a bordo do Uíge, 19 de Janeiro de 1967
Veio o Governador a bordo despedir-se das tropas e agradecer-nos, em nome da Pátria, o nosso esforço, sacrifício e abnegação. Seja tudo por alma da Pátria!, disse-me nos meus fundos. Garantiu-nos no final da derradeira golada de uísque que, em matéria de guerra, deixávamos este rincão pátrio melhor do que o havíamos encontrado à chegada. Mentiu com todos os dentes! A guerrilha alastra-se cada vez mais. O Capitão da minha Companhia ficou em terra. Ainda não completou o tempo de comissão e vai compensá-lo numa repartição qualquer. Nem fiquei triste nem contente, que, com esta magreza, se me esvaíram quase todos os sentimentos. Trouxe comigo o perdigueiro. Não houve qualquer problema na sua admissão a bordo. O Vila Velha, o meu guarda-costas, prontificou-se a tratar dele durante a viagem.
Lisboa, 27 de Janeiro de 1967
Não dormi isto sequer, com a ansiedade da chegada. Navega agora o navio Tejo adentro. Ainda é noite. Está frio lá fora e outro ainda mais gelado cá dentro em mim. Encontro-me no deck, enrolado num cobertor, à laia de capa de estudante de Coimbra que ainda sou. Vejo a ponte nova, Salazar chamada, e ao longe as luzes da cidade. Não me encantam nem me chamam. Ando de um lado para o outro e penso na vida e no futuro. E olho indiferente as luzes que se espelham, tremeluzindo, nas águas do rio. Serei capaz de vencer e de me vencer? Vou ter o meu filho no cais à minha espera. Com dois meses apenas. E talvez seja bom assim. Se tivesse entendimento, veria o pai já cansado e envelhecido e dardejando chispas de medo dos olhos fundos. Na flor da idade. Não minto. Vi-me no espelho quando me escanhoava pela última vez. Última, sim. É que daqui em diante vou deixar crescer a barba. Não foi promessa. Foi uma jura. E cada um tem direito à sua pancada. Mas sei as razões desta minha atitude, que, como todo o neurasténico que se preza, tenho explicação para tudo quanto me aconteceu ou porventura venha a acontecer-me. Um dia hei-de contar!
texto de Cristóvão de Aguiar
daqui
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"navio misto que pertencia à Companhia Colonial de Navegação, muitos o conheceram por diversas razões, no meu caso por fazer parte da tripulação, nele embarquei no dia 31 de Julho de 1974, com a função de Electricista e aqui vos mostro mais um cartão de identificação.Transportava-mos militares de Lisboa a Guiné ou para Angola e vice- versa, nesta data creio termos transportado ainda, militares mais uma ou duas vezes pese embora se tenha dado 0 25 de Abril, a independência só aconteceu em Novembro no ano de 1975.
Era um navio misto, ou seja podia transportar carga e passageiros, com mais ou menos 145 metros, tendo sido construído na Bélgica em 1954, dispunha de um motor Diesel de 8 cilindros com uma potência de 6850 cavalos.
Tinha acomodações para 571 passageiros e a tripulação era composta de 139 pessoas.
Mas!....no transporte de militares, eu nem sei dizer-vos a quantidade, pois iam por todo lado como se costuma dizer (sardinha em lata) e hoje a relembrar essa vivência, posso dizer que as condições eram péssimas que nem quero descrever.
E lá voltei eu a Angola mais concretamente ao Porto de Luanda desta feita transportando militares, no regresso vinha o navio cheio novamente e após alguns dias chegava-mos a Lisboa aonde éramos aguardados por um mar de gente, familiares e amigos daqueles militares.
Era uma cena que me passava muita emoção ao ver toda aquela gente aos abraços no meio de risos e choros.
Fiz algumas viagens mais até se trazerem os últimos militares assim como civis, de regresso a Lisboa, também neste espaço de tempo fomos a Moçambique para trazer militares tendo o navio ancorado em Lourenço Marques indo mais tarde ao Porto de Nacala aqui sim embarcando os últimos militares pois que a independência seria no dia 25 de Junho de1975."
do blogue de José Castro
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Na tarde do dia 10 de Novembro de 1975, a bandeira portuguesa foi pela última vez arreada no Palácio do Governo e na fortaleza, dobrada e redobrada. O alto-comissário, almirante Leonel Cardoso, ao qual coube a ingrata tarefa, proclamara horas antes a independência de Angola. Quatrocentos e noventa e dois anos depois das naus portuguesas ali terem largado ferros, o último representante da soberania portuguesa abandonava a jóia do ex-Império, e partia, "sem cerimonial, mas de cara levantada", rumo à base naval da ilha de Luanda.
Ao largo, na baía já abandonada por barcos carregados até à borda de multidões e contentores, a fragata "Roberto Ivens" escoltava o "Uíge" e o "Niassa", com as máquinas prontas para, pela última vez, zarparem para Lisboa. Uma semana antes, a cidade branca acabara de esvaziar-se. A ponte aérea, organizada com o apoio de países estrangeiros, retirara de Angola, no meio de indescritíveis cenas de pânico e confusão, quase meio milhão de portugueses."
daqui
O Uíge foi desmantelado em 1980.
Sala de Jantar 1ª Classe
Imagem de Manuel Albergaria de Santaclara
1 comment:
não deixes para amanhã o que podes fazer uíge :))
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