light gazing, ışığa bakmak

Sunday, July 11, 2010

o papel da tecnologia

sendo a situação a seguinte: o autor aguarda enquanto um técnico informático tenta reparar o seu computador, onde tem o trabalho acumulado de anos. do Diário de Vila-Matas, claro.


"A casa foi sempre muito pequena e não sabia onde pôr-me enquanto ele procurava o motivo da avaria. Sentei-me num cadeirão em frente da janela e simulei que lia Los Tiempos Hipermodernos, de Gilles Lipovetsky, e que tomava notas, muito especialmente da parte onde se fala do hiperconsumismo em que nos encontramos tão mergulhados actualmente. Simulei tanto, que acabei por ler esse livro realmente, li as fantásticas últimas páginas, onde se contempla um porvir nada animador para todos aqueles que, por muito que tenham computadores e técnicos que lhes arranjam os problemas, ainda se dedicam à escrita.

No momento em que o técnico me anunciava - imperturbável - que acabava de perder os meus endereços electrónicos, o próprio correio e todos os meus documentos pessoais - tudo o que tinha armazenado da minha escrita dos últimos anos -, eu encontrava-me a inteirar-me de que a filosofia inventou as grandes perguntas metafísicas, a ideia de uma humanidade cosmopolita, o valor da individualidade e da liberdade, mas essa força milenária esgotou-se na actualidade: «Um sinal dos tempos. Não temos outro remédio senão que o seu papel histórico e prometeico ficou para trás. São as ciências e a tecnociência o que hoje abre mais horizontes, o que inventa o porvir.»"


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já na página 182 começo a ter uma vontade imparável de ler a sua ficção para ver se tudo isto vai a algum lado. por tudo isto quero dizer a leitura das leituras das leituras; a situação ironicamente cómica como esta acima, os relatos impessoais e mediados por textos alheios das muitas viagens profissionais.

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hmm.. em que a dúvida não se origina no texto mas saber se o vou comprar a seguir ou não. comprar ou não comprar. (a imagem é do texto de Lipovestsky, mencionado acima)

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