light gazing, ışığa bakmak

Friday, September 17, 2010

passar a ferro

a história de Sebald que de certo modo continua a ser uma história de momentos épicos, só que vistos do avesso. (Depois de 39-45 tudo deveria ser visto do avesso, e não foi). escrever hoje deve ser complicado. não havia tantas imagens há poucas décadas ainda, não tantas, não fotografia (os cadernos de Leonardo). não havia tanta cor, como me admirei de ler Stephen Crane - Chicago, o cinema estava a chegar (foi uma escola de cor, afinal, o Rio de Jean Renoir). Kafka e o cinema, um capítulo de Sebald em Campo Santo, e os filmes que Kafka viu, que perspectiva nova. Kafka não gostava de cinema (quote talvez mais tarde para que me lembre). se quero pôr em palavras o som que as unhas fazem na tábua de passar (que hoje range com ruído metálico mas rangia antes com voz de madeira), não posso esquecer a Loren a pôr a roupa a secar em Una Giornata Particolare que vi em criança e me causou a maior impressão e talvez nem possa passar ao lado dos estendais cubistas de Ozu, ou dos lençóis em Home, tantas imagens de roupa, de ruído ligado à roupa, esta história ainda assim não entra em Sebald preso à morte e ao facto de essa morte ter sido racional e estruturada, quase lógica. o desejo de morte é o mesmo quer seja estruturado ou não, mata-se com as possibilidades que se tem, maior a técnica maior a eficiência da matança, mais rudimentar a cultura mais rudimentar a matança. (como hoje mesmo, quantas pessoas com as machetas, familias inteiras) essa história pequena que continua à sombra, apesar de milhares de poemas ou de puemas como diz Manuel de Freitas, em que as mulheres se dedicam à listagem e descrição das tarefas ainda suas. como com a matança, a escrita faz-se com o que está à mão.

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