light gazing, ışığa bakmak

Sunday, October 3, 2010

órgão

não fui a nenhum casamento e casei já o suficiente myself. não me misturei desta vez, como na excursão japonesa, embora haja um encanto inegável no acto de se imiscuir em grupos desconhecidos como se fôssemos velhos amigos, seguir o olhar para ver o mesmo e quase lhes calçar os sapatos não fosse esse gesto tão impossível sem um amor abismal. aproveitei sem vergonha as portas abertas da basílica e esgueirei-me num intervalo entre casamentos. o padre e um homem jovem estavam sentados a uma das alas, meio ocultos do vai-vem de casamenteiros, com ar entediado. quatro casamentos de seguida, ouvi a queixa. casamento em série, linha de montagem. as pétalas de uns ainda não arrefeceram e serão as pétalas de outros. vi os noivos que saíam e os que entravam vinte minutos depois. costas descobertas, o branco até ao chão na maior igreja daqui aos Jerónimos. os planos são gigantescos, a expectativa um monumento, nem seria justo dizer maior a queda. ali perto come-se bem no Brazão, comida saloia mas também há picanha. a basílica eleva-se irreal. o som do órgão que alguém tocava a bater nas paredes altas forradas de santos arcanjos e mártires até à majestade de uma cúpula que chega às portas do paraíso. creepy disse ele. eu podia ficar lá toda a tarde, entre o ressoar magnífico dos sons barrocos e o frufru das sedas cerimoniosas dos convidados.

3 comments:

Anonymous said...

uns de mais outros de menos

Ana V. said...

Pec, só isto: nhammmm ... ;)

Ana V. said...

anónimo: cada um carrega a sua cruz, não é como se diz?

 
Share