light gazing, ışığa bakmak

Monday, February 21, 2011

sopa do fogo

nunca se ouviu tudo e quando se pensa que sim está-se muito errado.

Nunca tinha ouvido falar da sopa do fogo, que hoje me foi descrita pela equipa adversária. Explicando: a bordo de navios do comércio sempre existiu uma grande rivalidade entre a casa da máquina e os oficiais da ponte. (A estes dois grupos acrescenta-se um terceiro, o do convés, a que pertencem os marinheiros). A história foi-me contada por oficiais -comandantes- e não posso jurar pela sua veracidade, precisamente por se tratar de uma tradição antiga dos maquinistas (homens da casa da máquina) ou, melhor dizendo, dos fogueiros, do tempo em que os navios tinham caldeiras a carvão. Nessa altura, os fogueiros cozinhavam a sopa do fogo em tacho de ferro na caldeira do navio, no turno das oito da noite à meia noite. Essa sopa era uma espécie de cozido feito a fogo lento (um slow-cooking antes de o ser), com os ingredientes disponíveis: legumes, couves, carnes ou enchidos. dizem os oficiais - aquilo que os fogueiros conseguiam trazer das câmaras frigoríficas e dos paióis quando lá tinham de ir. No paquete Funchal, quando ainda tinha caldeiras, chegou a ser atracção turística, descer à casa da máquina para a sopa do fogo.

Um dos poucos relatos em primeira mão:
"A bordo "sopa do fogo" ia ser servida.
Alguns passageiros convidados, faziam-nos companhia, ansiosos por
provarem tão famoso e delicioso pitéu.
A panela estava cada vez mais apetecível. O despenseiro tinha dado
uns bons nacos de carne e boa "tora", para que a sopa naquela noite
pudesse ser mais um sucesso.
As sagradas mãos do azeitador senhor Raul faziam milagres. "
(daqui)

"A sopa do fogo estava divinal... A "tora" (chouriça) tinha sido quase toda
roubada. Diziam que tinha sido o QUIM ROMÃO que tinha dado ordens
para a "gamar", enquanto apurava na panela.
Ainda bem que tinham tido o bom senso de deixar apaladar a sopa. Sim.
Porque podiam ter tido roubado a "tora" antes de apaladar a sopa.
Só ainda não tinha percebido, porque é que a sopa do fogo demorava
quase 4 horas a fazer. Era estranho. Haveria alguma razão para isso? Acho que não.
O lanche não tinha sido nada mau. Dois tabuleiros com pasteis de nata,
mesmo acabados de fazer. E até se podiam comer muitos, porque
ninguém dizia nada. "
(daqui)

e ainda:
" "Sopa do Fogo" é uma espécie de sopa rica de couves, carnes e enchidos cozinhados no vapor das caldeiras do navio e que frequentemente serve de refeição ao pessoal de turno na "casa das máquinas" do navio."
daqui

2 comments:

ZePerlengas said...

A historia esta muito bem contada..Embora lhe faltem alguns ingredientes para abrir o apetite..Na realidade a"Sopa do Fogo"era preparada por norma por um Fogueiro,azeitador ou chegador..Como devem imaginar as maos de qualquer um deles por mais que as lavassem andavam sempre c/residuos dos oleos das maquinas..Falou no Funchal,eu falo-lhe do"Vera Cruz"..Na realidade a Sopa do Fogo,tinha mais sabor porque muitas coisas eram roubadas mesmo o Despenseiro a saber que se havia sopa os ingredientes tinham de sair dos Paioes e frigorificos aquando da vesita de rotina do Azeitador..Como ajudante do despenseiro ou paioleiro,foram muitos os choricos"Toras"k dei para a Sopa do Fogo...Mas a minha sopinha era sagrada..Sabado,12.29.12,vou fazer uma Sopa do Fogo na A.N.S.F./Riverside NJ

Ana V. said...

Obrigada pelo comentário, Zé Perlengas! Em Lisboa sei que a sopa do fogo é feita regularmente no Clube de Oficiais e que tem lotação esgotada, mas talvez existam outras iniciativas parecidas. Bom Ano!

 
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