light gazing, ışığa bakmak

Saturday, August 6, 2011

La Fenice

troveja sobre a cidade, a luz e o estrondo em quase simultâneo. a água sai dos canais e espalha-se no ar.

no concerto, uma australiana diz que sofre ainda de jetlag. chegou ha dois dias do Canadá. conhece o contrabaixista, que lhe dirige sorrisos durante a música. ensina inglês a miudos aborígenes e vive longe do mundo, junto deles. casa paga, bom ordenado e férias generosas que lhe dão para correr o mundo. depois de Veneza quer visitar uma aldeia em Inglaterra com o mesmo nome que o seu apelido. achei que eram tudo histórias.

a fénix, o teatro La Fenice, renasceu das cinzas duas vezes. a última recentemente, em 96, quando um fogo posto por electricistas que tentavam esconder o seu mau trabalho, se descontrolou. o teatro ficou totalmente destruído. os electricistas fugiram para o México mas foram capturados e devolvidos à cidade, que lhes deu uma pena de seis anos de prisão. a reconstrução demorou sete anos. o La Fenice é agora uma cópia do original. esta é a ideia de Veneza: tudo fica como estava, onde estava. seguindo esta ideia, imagino que a cidade de hoje seja uma cópia da cópia da cópia. são orgulhosos, os venezianos.

fetichismo deve ser isto: aqui me fotografo, na mesma cadeira em que se sentou Marcelo Mastroiani há anos atrás.

no vaporetto, um casal ocupava três lugares, num deles a mala branca da mulher. outra mulher, natural da cidade, pediu para se sentar. por alguma razão gerou-se uma discussão sonora, ela mostrando alto a sua indignação. três filas atrás, sorriam os americanos. era um sorriso amoroso.
how do you pay for the apps, mom? pergunta a filha enquanto a mãe procura no telefone os restaurantes com melhores críticas no bairro em que pretendem sair. percebo-os tão bem como percebo o gato da minha filha. all structured and planned.

num café, um grupo de espanhóis idosos discutem as opções do menú. lamentam que a tortilla seja apenas ovos tostados de um lado e do outro - omelete- dizem com algum desgosto. por vezes o vaporetto desliga o seu motor ruidoso e desliza na água. nessa altura, só, se consegue uma pequena espreitadela ao que foi o passado.

uma placa: aqui viveu e morreu Cimarosa. Paisiello foi o compositor da primeira obra a estrear no La Fenice inicial, conheço-o pela voz de Bartoli. Callas cantou no La Fenice durante alguns anos. o seu début foi neste teatro. na parede do hotel estão muitas fotografias autografadas de artistas que cá estiveram, como Pavarotti.
os estaleiros da construção naval veneziana albergam agora a arte da Biennale. para lá chegar, ao Arsenal, as ruas com estendais de um lado ao outro, como se estivessem em festa. num canal, uma embarcação frutaria, colorida. quero comer mais e mais bresaola.

no Death in Venice de Britten, diz Aschenbach: I will pursue this freedom / and offer up my days / to the sun and the south.


procuro a Rosa de Pasolini em várias livrarias, mas encontro apenas um livro dele, talvez o que foi publicado à menos tempo. algumas livrarias, como outras lojas, estão fechadas durante o mês de Agosto. no geral, há bons livros (por exemplo: gostei de ver os best-seller lá ao fundo, junto da culinária. para lá chegar é preciso ignorar toda uma livraria de bons livros, há tempo suficiente para o arrependimento). a Mondadori é semelhante à Casa del Libro, à Borders, à Bertrand, salvo a dimensão. procuro as outras e há algumas. dou conta que entre o meu desejo e o tamanho da minha mala há um gap 'colossal'.


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