light gazing, ışığa bakmak

Sunday, August 7, 2011

Lido


a cidade é um grande labirinto, um jogo para adultos. depois de cá estar dentro, encontrar-se é quase impossível apesar de, ao contrário dos labirintos originais, existirem mil mapas para decifrar. as pessoas que andam na rua desaparecem de repente.

como a cidade-caixa, assim o La Fenice. reconstruído todo de madeira, tal como o original. este teatro, dizem-me, é um dos locais no mundo com melhor som. o próprio teatro, diz a guia, é um imenso instrumento, uma caixa de madeira onde ressoa, de modo perfeito, o som.

domingo os venezianos vão à praia, como nós. toalhas, cadeiras, baldes e castelos na areia. a praia do Lido tem uma areia quase castanha e compacta, não só por causa das máquinas que a limpam todas as madrugadas, mas pela sua própria densidade. quando se anda, os pés não se afundam e quase não deixam pegada. as crianças que nela brincam e rolam ficam como sujas de terra. à beira do Adriático, milhares de conchas partidas na ondulação da água morna. corri a praia para um lado e para o outro.

está fechado o Grand Hotel des Bains, vedadas todas as entradas e montados andaimes em metade do edifício. ao seu lado erguem-se duas gruas. todo o hotel é agora um estaleiro. espero que renasça também das cinzas para que outros ciganos possam voltar a animar os serões na grande varanda que dá para os jardins e para a avenida marginal, lungomare. na praia onde morria Aschenbach decorria hoje um concurso para crianças, corridas e habilidades na areia, com grande festa, bandeiras, câmaras televisivas e prémios. muitas mulheres de meia-idade na praia, sós ou umas com as outras, a aproveitar o domingo. esta é a praia libera, a que fica mais perto do vaporetto e onde foi construída uma das mais enigmáticas estruturas metálicas, que serve agora de sombra aos primeiros a chegar.

correr o canal de um lado ou outro faz com que se balance o resto do dia, efeito do mar. o chão da Accademia é também assim, ondulado.

no grande labirinto, acontece ver as mesmas pessoas várias vezes, em locais variados, como cobaias que estivessem a ser observadas de cima.

não sei (ou melhor, imagino) porque Philipe Sollers desclassifica o museu de Peggy em Veneza. para além de estar repleto de americanos, exibe uma colecção impressionante.

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