por vezes

vejo coisas que eu faço em outras pessoas. é incomodativo.
mas é possível toda uma reconstrução histórica de si próprio, pelos trejeitos e copianços que os outros carregam de nós. a obsessão de há vinte anos, o desassossego de há quinze, o riso nasalado de há dez, as palavras de há cinco, as imagens recentes. se houvesse o que copiar, mas não há. sou uma pessoa enganada há quarenta e seis anos.

das imagens recentes: de surpresa ver que me tinha observado, no meu hobby de prazer para o tempo livre (interrompido por este inverno de grande descontentamento), a miúda quis fazer o mesmo ela própria, seguindo o que depois percebi serem os seus instintos e desejos, contrariando o que querem para ela. o que me fez pensar, como antes, que apesar das condicionantes que, enquanto pais, podemos forçar, a personalidade emerge sempre - tal como ela, a seguir o meu click-click com os olhos para agora tomar a câmara para si. neste caso, é verdade, não foi incomodativo, foi até razão de brinde.

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não cheguei aqui de repente, entendi hoje. estava doente há três meses.