light gazing, ışığa bakmak

Sunday, September 9, 2012

nas asas do desejo (4)



admirei-me de ver o Sea Me, restaurante de peixe e peixaria, num espaço totalmente remodelado. o balcão é feito com a madeira de um barco de pesca, na montra relíquias de outro tempo que agora servem para isco turístico e graça decorativa (as aparências). não vi os preços, mas gostava de lá almoçar, um dia. neste antigo snack vivi o que seria um episódio num dos mais marcantes períodos da minha vida, que de certo modo posso comparar ao cair por terra de Candide perante o escravo negro. se Candide pode continuar no jardim das delícias, o mesmo não o podemos dizer nós que caminhamos inexoravelmente para a queda. -caí aqui, e em mais ou um dois locais desta cidade. qualquer dia caminho por lá também. talvez vendam cheesecakes, agora, talvez tenham pendurado nas janelas as saias pobres das varinas.

fruta de cera, espargos na montra das velas do Loreto. fiz fila para lhes tirar o retrato, pensei em juntá-las com as figuras doces do Algarve.
alguém morreu neste prédio.  ou partiu. e era uma mulher. nos vasos, as flores desistiram.

na rua do elevador da Bica, para um lado e para o outro. aqui há festas em Junho e mais multidões nocturnas, mas ao domingo ouvem-se os canários e as sinetas dos eléctricos na calçada do Combro. os turistas vagueiam com as suas Nikons. as curvas de cidade são aqui abruptas, verdadeiros desfiladeiros entre o princípio da rua e o fim. prepara-se a geladeira talvez para a praia, fala-se com a vizinha sobre X que está num lar. as pequenas janelas dos pisos térreos em lisboa são sui generis: têm cortinas e uma mulher dentro. as cortinas abrem-se na diagonal, um pouco, e num espaço em triângulo surge a cara da mulher. muitas vezes ficam ali, a cadeira encostada à janela e dizem-nos bom dia. podíamos parar, um movimento colectivo de parar, e falar uma boa hora com quem assim se senta à janela.









no miradouro de Santa Catarina, ao lado do Noobai, de má memória. má memória minha, mas um local aprazível, de excelente comida e a vista toda sobre o tejo. para quem ama ver passar navios.

ao fundo, a cúpula da basílica da Estrela. um pouco para a direita sentava-se a santa Companhia de Jesus que estendia o seu manto de morte sobre a população de becos e ruelas. hoje apenas o liceu e a polícia à entrada a reguardar alunos de outros alunos. na rua de cima o muito bonito museu geológico de lisboa dito o museu dos museus.
escadas fotogénicas que entraram já em muita película de cinema. que bonito! parece Montmartre, dizem as duas turistas a descer as escadas. não parece nada, quero eu dizer, nós somos todos árabes e aqui não há pintores.


na Calçada do Combro descer até à rua do Poço dos Negros, hoje quartel de indianos que têm tudo ao domingo de manhã (very cheap), e que desbloqueiam qualquer telefone. os habitantes desta rua, que quase desagua em Santos, continuam a vir de outro continente. viro para são bento ao cheiro do caril. mais atrás, o minúsculo mas imaculado Atelier Praline, um pâtissier francês na capital. mais acima ainda na Calçada, a taberna portuguesa.







be.bel -mesmo em frente ao parlamento. as moules frites de uma bel.ga em be.lém. genial.
os jacarandás da avenida dom carlos I. apetece dizer que os deputados da república não merecem a sombra destas árvores que se vestem de lilás em duas épocas do ano.

nas asas do desejo.

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