light gazing, ışığa bakmak

Sunday, September 9, 2012

nas asas do desejo (3)







na janela do Frágil.




de manhã despontam as pessoas que vivem em casa como refugiados de uma guerra nocturna. pendura-se roupa, desce-se à mercearia, ouve-se missa, jazz ou samba, conforme a faixa etária e proveniência. aos domingos, o bairro desperta por volta das dez.








o bairro não precisa de palavras, desde a rua da Rosa, descendo até à entrada da Praça Luís de Camões. domingo de manhã caminho fugindo às operações de limpeza, que usam as mangueiras poderosas do combate aos incêndios. o lixo acumulado no chão, os milhares de copos e limas que se encostam a portas, janelas e ao tejadilho de carros falam da multidão residente há apenas meia dúzia de horas atrás. um dos homens da limpeza diz-me que há dias piores. o que lhe faz mais confusão é o facto dos copos maiores corresponderem a cocktails, cada um a seis euros e meio ou sete. imagino-o fazendo contas todos os domingos de manhã, arrancado à família para limpar os destroços dos outros.

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