light gazing, ışığa bakmak

Sunday, April 28, 2013

zangam-se as comadres (que se f* Roland Barthes, ou seja, quem paga são os franceses)

coisas engraçadas do mundo 'literário' português:

- António Guerreiro no Público sobre José Luís Peixoto (um gajo que acho bem porreiro) na capa da Visão:



O que é um escritor?

Quando vemos José Luís Peixoto, em grande plano, nos cartazes publicitários da revista Visão, a exibir a sua figura, enquanto autor de dez contos, "inspirados" nos dez cantos de Os Lusíadas (contos e cantos que a dita revista está a editar e a distribuir para comemorar os seus 20 anos), apetece repetir duas perguntas que, outrora, foram feitas respectivamente por Robert Musil e René Char: "É possível dizer o que é um escritor?" e "Há incompatibilidades, para um escritor?". Na resposta de Georges Bataille a esta pergunta, podemos ler: "É claro que o escritor autêntico, que não escreve por medíocres ou inconfessáveis razões, não pode, sem cair na superficialidade, fazer da sua obra uma contribuição para os desígnios da sociedade útil". Desde então, a imagem e o estatuto do escritor mudaram muito, tal como a profissão literária, mas não ao ponto de conseguirmos olhar com indiferença e sem nenhuma interrogação a foto conspícua de José Luís Peixoto enquanto escritor-publicitário-homem de negócios. Nos seus Ensaios Críticos, Barthes estabeleceu uma vez uma oposição entre escritores e escreventes, onde dizia, entre outras coisas, que a palavra do primeiro, instransitiva, é um gesto que encontra o seu sentido na instituição literária, enquanto a do segundo é uma actividade produzida e consumida à sombra de outras instituições que nada têm que ver com a literatura e fazem parte de outros circuitos (o mercantil, sobretudo). A figura de José Luís Peixoto neste cartaz publicitário deve chamar-nos a atenção para uma transformação da instituição literária, por acção destes escritores que se dirigem prioritariamente a um "público" e respondem fundamentalmente a exigências externas, o que os coloca na dependência da sanção anónima do mercado. A sua consagração faz-se na rua, na esfera pública mediática. Eles situam-se num campo que não reivindica autonomia, ao contrário do que acontecia no campo literário, tal como o conhecemos até recentemente. Segundo as regras da instituição literária, no interior da qual adquirem sentido as perguntas de Musil e Char, o reconhecimento de um escritor pelos seus pares é o critério primeiro de consagração. E isso significa que eles devem o seu prestígio ao facto de não fazerem concessões ao grande público e de instituírem um mundo económico às avessas (o que não quer dizer que não haja uma lógica económica nesta economia carismática). Ora, esta convivência pacífica com a heteronomia (e já não com a exigência de autonomia literária), esta boa consciência no tráfico da figura pública do escritor, faz com que o Peixoto e todos os seus companheiros (ansiosos por se verem também em mupis de rua) nada tenha que ver com o que dantes se chamava "escritor", para quem a escrita começa quando o Autor entra no seu desaparecimento, na sua própria morte. Agora, trata-se exactamente do contrário: suprimir a escrita em proveito do Autor. O monopólio da legitimidade literária, isto é, o monopólio da autoridade para dizer quem é escritor e quem não é já não está do lado daquilo a que se chamou instituição literária, com as suas diversas instâncias; está do lado de quem vende Os Lusíadas por interpostos Peixotos; está do lado dos Peixotos, a quem cabe a definição legítima de Camões como escritor.

Ípsilon, 19/4/2013, p. 36.
(em versão .pdf aqui)

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- a reacção de Alexandre Pomar (daqui):


a instituição literária

Que se foda o Barthes, que estabeleceu uma vez...: "Nos seus Ensaios Críticos, Barthes estabeleceu uma vez uma oposição entre escritores e escreventes, onde dizia, entre outras coisas, que a palavra do primeiro, instransitiva, é um gesto que encontra o seu sentido na instituição literária,..."

O policiamento ao serviço da instituição literária está de serviço e é miserável...

Eles quem?  / A "aristocracia" de fachada cultural. / No caso, o Guerreiro no ípsilon de hoje (19/4) . Grotesco. / O G... ao serviço do poder?!

O poder dele, de um certo jornalismo, uma certa universidade. Uma franja do poder. A qual defende erguendo exercícios de autoridade ao serviço de uma ideia de instituição literária, fechada sobre si própria, autónoma. Percebe-se o que significa estabelecer uma oposição entre escritores e escreventes? autores e escribas? - que não significa distinguir bons e maus escritores, geniais e medíocres, o que é do domínio do exercício crítico argumentado, vulnerável por isso ao diálogo e ao confronto, mas sim erguer uma fronteira identitária entre escritores elevados e populares, eruditos e fáceis, sérios e comerciais - tal como se defende a oposição entre alta e baixa cultura, entre arte e cultura, entre o que é puro e desinteressado e o que se implica em posições e interesses, entre a arte pura e a arte que serve, entre nós e os outros. A música de Bach servia para acompanhar cerimónias, e não existiria sem elas, e é admirável porque as servia bem, melhor que todos os outros. Como Velazquez servia.
É a teoria especulativa da arte, idealista com roupagens marxistas, contra a arte como experiência. Exercer o poder é tutelar pretensos saberes graças ao administrar de citações descontextualizadas, regressando à escolástica do comentário cada vez mais etéreo sobre fragmentos e autores que foram dizendo uma coisa e outra imersos no seu tempo, mas destacados da sua temporalidade conflituosa para serem apenas citações abstractas. Do Barthes, do Benjamin, do Warburg, erguidos em submodas académicas.
Um mundo ridículo e precioso que assusta os neófitos e é risível para quem realmente manda e lhes paga. Esse é um poder tolerado, cúmplice da perda da instrução, que enquanto pretensa vanguarda ou discurso avançado se distanciou cada vez mais da vida e das lutas concretas. Há que combatê-lo por toda a parte, nas escolas e nos jornais.

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enfim, so much ado...

mais porreiro do que tudo isto é julgar que o cancelamento da feira do livro do Porto não faz diferença nenhuma porque os livros que lá aparecem são uma m* seja como for. --não concordo, lamento. quer dizer, concordo que a maior parte dos livros que lá aparecem são uma m*, mas gosto de ter a liberdade de escolher os livros que, a meu ver, são realmente bons.


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